VERDADES INCONVENIENTES

Como a indústria farmacêutica cria doenças para vender mais medicamentos

doencafal1Você já ouviu falar na “Síndrome de Sissi”? Trata-se de um transtorno descoberto, ou melhor, inventado em 1998, na Alemanha, que ocorre supostamente quando pessoas depressivas encobrem seu abatimento com um comportamento ativo e positivo diante da vida. Ou seja, quem é ativo, pratica esporte, tenta levar uma vida positiva, estaria doente e precisaria ser tratado com medicamentos. O nome “Síndrome de Sissi” foi dado a essa “doença” psíquica por causa da imperatriz austríaca Sissi, que, segundo os “inventores” desse transtorno, teria sido muito ativa para compensar sua depressão.

Sabe como surgiu essa doença?

Simplesmente assim: ela foi criada no setor de marketing de uma empresa farmacêutica, que tinha uma pílula para vender, mas ainda não tinha uma doença que pudesse ser tratada com ela. Inventou-se então uma história convincente, porém aventureira, com base em literatura histórica, escolhendo uma figura famosa para exemplificar a enfermidade, nesse caso Sissi. O próximo passo foi convidar médicos e psicólogos alemães para um “kick-off meeting” na ilha de Mallorca, na Espanha (com todas as despesas pagas pela indústria farmacêutica, claro), que foram então convencidos da existência da doença. Alguns meses depois, na Alemanha, houve uma entrevista coletiva, onde médicos e psicólogos comunicaram ao público a existência do transtorno e que cerca de três milhões de pessoas no país sofreriam desse mal. Assim a “Síndrome de Sissi” nasceu e se espalhou em seguida pelo mundo. Felizmente a farsa foi desmascarada mais tarde pelo jornalista Jörg Blech, da revista alemã “Der Spiegel”.

Você achou isso assustador?

Pois bem, prepare-se então para se assustar mais ainda, pois há muitos outros exemplos de como a indústria farmacêutica manipula dados e inventa doenças somente com o objetivo de aumentar seus lucros. Outra invenção é a “menopausa masculina”, que seria uma falta do hormônio testosterona em homens acima dos cinquenta, que causaria mau humor e que precisaria de tratamento. Aqui mais uma vez o mesmo modelo: uma empresa havia inventado um gel de testosterona e não tinha ainda uma utilidade para ele. Então, pegou-se um fenômeno natural, que é a redução desse hormônio no corpo masculino com o passar do tempo, criou-se um valor de referência fictício, classificando todos os homens com nível de testosterona abaixo dele como doentes. E, imagine o absurdo: essa doença foi criada na verdade por uma agência de publicidade contratada pela empresa.

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A ganância da indústria é tão grande que não basta a fortuna que já ganha com as doenças reais. Para ganhar mais, ela transforma comportamentos tidos antigamente como normais em enfermidades, já apresentando o produto ideal para tratá-las.

Critérios alterados, doenças criadas!

Nos Estados Unidos, enfermidades psíquicas são definidas no catálogo DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, em português: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que é utilizado em todo o mundo como base para o diagnóstico para transtornos psíquicos. Em cada nova edição desse manual, surgem novas doenças. A versão atual do DSM-5 foi revisada por psiquiatras e psicólogos com o objetivo de melhorar os critérios de diagnóstico. Críticos alertam para o fato dessa nova edição ter mudado os critérios de tal modo que pessoas psiquicamente saudáveis podem ser vistas como enfermas, com consequências sérias para o paciente.

Por exemplo, os critérios para o diagnóstico de uma depressão: segundo o DSM-5, o paciente tem que preencher cinco de nove critérios para receber esse diagnóstico, entre eles tristeza, fadiga, falta de motivação e o sentimento de não ter valor como ser humano. O problema aqui é que os critérios definidos não existem somente no caso de uma depressão, mas também, por exemplo, quando uma pessoa está de luto, após ter perdido um ente querido. Na versão anterior do catálogo, um luto de até dois meses era considerado normal. Na versão atual, uma pessoa que se sinta triste pela morte de alguém já pode logo ser considerada depressiva. Uma situação de tristeza normal, inerente ao ser humano, pode então ser transformada facilmente em patologia.

As doenças inventadas

Também os critérios para demência na velhice foram alterados, permitindo que o esquecimento normal decorrente da degeneração física de uma pessoa idosa já possa ser classificado como patológico. O mesmo vale para as mudanças dos critérios de diagnóstico para ADHS, que podem fazer com que o comportamento de crianças e adolescentes em fases difíceis de seu desenvolvimento seja visto como um transtorno. O problema aqui, segundo os críticos, como o jornalista Jörg Blech, é que muitos dos psicólogos e psiquiatras que revisaram o catálogo DSM trabalham para a indústria farmacêutica, não são independentes e defendem interesses de quem simplesmente quer vender mais medicamentos. O resultado é uma alteração de critérios ou mesmo a criação de enfermidades que claramente beneficiam a indústria.

Até mesmo a Sociedade Alemã de Psiquiatria e Psicoterapia, Psicossomática e Neurologia (Deutsche Gesellschaft für Psychiatrie und Psychotherapie, Psychosomatik und Nervenheilkunde e.V. – DGPPN) admite que muitas das “novas doenças” apresentadas no DSM-5 não são transtornos, mas comportamentos normais do ser humano. Além das “novas doenças”, a indústria farmacêutica usa sua influência também para reduzir os valores de referência já há muito conhecidos, como valores de pressão arterial, glucose ou colesterol. Enquanto que em 1990, por exemplo, um valor de glucose de até 144 mg/dl era considerado normal, hoje vale o limite de 120 mg/dl. Essa redução do valor de referência fez aumentar em 50% o consumo de medicamentos para diabetes. Outro exemplo: em 2002, o nível máximo de colesterol considerado normal era de 240 mg/dl. Hoje, esse valor caiu para 200 mg/dl, o que representa um aumento de 150% nas vendas de medicamentos nessa área. Aqui também se registra uma forte ligação dos médicos que recomendaram essa redução dos valores de referência com a indústria farmacêutica.

Quer mais?

Pois bem, os médicos franceses Philippe Even e Bernard Debré, autores do Guia dos 4000 medicamentos úteis, inúteis e perigosos (Guide des 4000 médicaments utiles, inutiles ou dangereux), afirmam que metade de todos os medicamentos prescritos por médicos na França são inúteis, 20% apresentam riscos aos pacientes e 5% são perigosos. Eles afirmam ainda que a indústria gasta 5% para a pesquisa, 15% para o desenvolvimento e 10% para a fabricação dos medicamentos, enquanto investe 45% em marketing e tráfico de influências. Infelizmente, outro fato conhecido é o forte lobby da indústria farmacêutica e sua a influência sobre decisões tomadas pela classe política nesse setor.

O que fazer?

O problema é complexo e seria errado supor que todos os médicos (ou outros profissionais da área de saúde) estariam apoiando as falcatruas da indústria farmacêutica. Muitos são simplesmente ingênuos ao acreditar nas recomendações de sociedades internacionais ou nacionais. E há muitos que são críticos, não apoiam tais práticas e até as questionam abertamente. Seria também errado supor que todas as empresas do ramo recorrem a tal tipo de manipulação para aumentar seu lucro. E nem toda pesquisa sofre influência da indústria e há novas doenças que realmente existem. Mas devemos ficar atentos e ter cuidado. Como pacientes, devemos ligar as antenas e ser críticos, buscar um médico realmente de confiança e, na dúvida, consultar mais de um médico e ouvir várias opiniões. Devemos também ser críticos em relação às mídias, que, muitas vezes, na ânsia de vender notícias, divulgam a descoberta de supostas novas doenças, servindo de marionetes para a indústria farmacêutica e convencendo muita gente saudável de que estariam doentes.

Eu, como paciente, sei que não é fácil perceber o que está por trás de uma receita que recebo. Mas entendo que sou eu o principal responsável pela minha saúde física e mental e quero sempre saber exatamente do médico o que ele está me receitando e o motivo, me informando o máximo possível antes de engolir o que quer que seja. Sabemos que há grandes interesses financeiros por trás da medicina, o que significa que todo cuidado é pouco. E é importante também que cada um de nós entenda que há fases difíceis na vida que temos que suportar para crescermos. Correr atrás de “pípulas milagrosas” que nos acalente nessas fases de nada adianta e só serve para apoiar, mesmo que sem querer, essa malandragem da indústria farmacêutica.

 

3 DOENÇAS BIZARRAS INVENTADAS PARA MANIPULAR AS PESSOAS

 

27/11/2021/ por Julio Cezar de Araújo - Gota suprimida, autointoxicação intestinal e ovariomania. Essas são apenas algumas das doenças inventadas há mais de 100 anos que causaram uma verdadeira bagunça na sociedade. Essas condições médicas foram fabricadas através de informações ruins e incompletas, ganhando destaque por meio de seus defensores ou por falta de investigação médica. Engana-se quem imagina que o vasto acesso ao conhecimento combateu esse problema que nos persegue há séculos. Atualmente, existe mais desinformação disponível do que nunca.

"Se você pode fazer as pessoas se preocuparem com um problema inexistente, algo do qual elas não estavam cientes e não entendem, elas podem comprar sua solução apenas para aliviar a preocupação", disse o médico Steven Novella, na revista científica Science-Based Medicine. Inventar condições médicas se tornou a verdadeira doença da sociedade, usada para controlar pessoas ou alimentar o capitalismo, como mostram essas abaixo.

"Rosto de bicicleta"

Quando a sociedade machista do século XIX percebeu que as mulheres estavam querendo buscar seu lugar na malha social, foi feito de tudo para colocá-las diante de um fogão e deixá-las dedicadas exclusivamente aos maridos e filhos novamente. Arthur Shadwell, médico especializado em saúde pública, chegou a inventar em 1890 a condição "rosto de bicicleta" para impedir que as mulheres começassem a andar por conta própria. O veículo permitiu às mulheres novas liberdades e incentivou também a prática de atividades físicas, chegando a ditar a moda com novas maneiras de se vestir. Com seu surgimento veio também, obviamente, a maré de oposições — em sua maioria de homens.

Como relata uma matéria da Vox, os médicos passaram metade da década de 1890 disseminando a informação de que usar bicicleta deformaria o rosto das mulheres devido à expressão de cansaço após vários quilômetros pedalados. Foi declarado que elas poderiam adquirir para sempre sombras escuras sob os olhos, maxilar protuberante, palidez e olhos esbugalhados. Enquanto alguns dos médicos diziam que essas consequências teriam ligação com o esforço físico de pedalar ou equilibrar a bicicleta, outros alegavam que era uma penitência de Deus por violarem as regras impostas pela Bíblia Sagrada.

A bexiga hiperativa

Na virada do século XXI, de repente urinar se tornou uma necessidade fisiológica que precisava ser controlada. Como mostra uma matéria do Milwaukee Journal Sentinel, dois urologistas universitários apresentaram a condição em conferências médicas em 2001, após realizarem uma pesquisa por telefone perguntando quantas vezes ao dia as pessoas precisavam ir ao banheiro. O estudo constatou que cerca de 33 milhões de norte-americanos sofriam da chamada "bexiga hiperativa", pois segundo os urologistas não era normal para o ser humano ir ao banheiro tantas vezes por dia. Ironicamente ou não, todas as conferências em que a pesquisa foi apresentada receberam patrocínio de empresas farmacêuticas, que passaram a promover a cura da "doença" com medicamentos. Só entre 2013 e 2016, os remédios para tratar a suposta bexiga hiperativa foram associados a quase 200 mortes. O Food and Drug Administration (FDA) recebeu mais de 12 mil reclamações sobre os comprimidos e seus efeitos colaterais.

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Os malefícios da leitura

Livros e a leitura sempre foram sinônimos de progresso e independência, e foi por isso que, no século XIX, eles se tornaram a fonte de todos os tipos de problemas médicos para poder manter as mulheres onde elas "deveriam ficar". Profissionais médicos e defensores da educação masculina escreveram que a mulher que passava muito tempo com o nariz em um livro poderia desenvolver "pensamentos inadequados". Também foram atribuídos danos cerebrais e oculares, degeneração do sistema nervoso, depravação feminina, decadência moral e até morte prematura. Além disso, os médicos foram pontuais e cruéis ao sugerirem que todo o esforço colocado para ler um livro poderia afetar o sistema reprodutivo feminino, que teria que fazer uma força sobre-humana para se manter saudável e fértil diante de tanta energia sendo perdida. Ler livros sobre mistério, por exemplo, acarretaria um subdesenvolvimento dos ovários.

Fonte: https://caminhos.eu
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