5.12 Confusão de fantasia com realidade - Um dos problemas sérios dos aparelhos com tela é que somente ao redor de 8 anos as crianças começam realmente a distinguir fantasia de realidade (Spitzer 2005). Portanto, tudo o que vêem, em particular na TV, é tomado como algo que pode ser real. Até mais ou menos os 9 anos as crianças são extremamente abertas ao mndo, isto é, não desenvolveram um grau tal de autoconsciência que as isole das suas vivências e lhes permitam encará-las objetivamente.
Não poderia ser diferente, pois é nas idades tenras que a crianças aprende com uma intensidade que nunca mais vai se repetir, começando pelo andar, depois o falar e depois o pensar (essa é a ordem natural, e se não é seguida, a criança poderá ter problmeas posteriormente).
Tudo isso é aprendido por imitação; sem a citada abertura, não haveria essa possibilidade. As crianças natualmente imitam o que veem ao seu redor. Experimente-se fazer repetidamente ao lado de uma criança pequena um certo movimwento com um braço ou uma mão - depois de pouco tempo ela começará a imitar o gesto.
Uma boa parte da educação, no lar e na escola, é dedicada ao desenvolvimento da capacidade de se associar uma percepção a um conceito. Para isso, é necessário desenvolver essa capacidade de se chegar aos conceitos corretos correspondentes. Nesse sentido, a TV provê uma imagem virtual, completamente fora da realidade. Pode, assim, haver uma inversão: em lugar de a criança associar a imagem exibida no aparelho com algo que ela conhece do mundo real, fazer a associação do que observa no mundo real com a imagem que viu no aparelho. Em uma palestra, uma pessoa contou-me que conhecia uma história real de uma menina pequena que viu um leão e, em lugar de ficar com medo, correu para "brincar" com ele, pois estava vendo um seriado de TV onde havia um leão bonzinho, tendo obviamente sido estraçalhada. Nesse caso, ocorreu jutamente a inversão citada da fantasia com a realidade.
Por outro lado, é fundamenbtal durante essa época de imitação, em que a criança está extremamente aberta para o mundo (senão conseguiria imitá-lo), não se sente separada dele e tem nele uma absoluta confiança, que se lhe apresente, tanto em figuras como na realidade, apenas o que é bom, belo e verdadeiro. Note-se que o mau, feio e falso podem ser apresentados sob forma de imagens mentais, como é o caso dos contos de fadas, mas como acontece nos últimos, sempre sendo vencidos pelo bom, belo e verdadeiro. Voltaremos a este ponto no item 6.2.
5.13 Isolamento social e problemas de relacionamento
Já esta provado que o consumo de TV por crianças e jovens traz graves prejuizos sociais. O estudo de Myrtek e Scharff (2000), já citado no item 5.8, traz pesquisas estatísticas com alto índice de significância, mostrando diferenças entre baixos e altos consumidores de TV aos 11 e 15 anos em relação a conversar, ficar sozinho e passar tempo com amigos. Aos 11 anos a diferença não é muito grande, mas aos 15 anos ela torna-se um verdadeiro problema social. Assim, o argumento de que crianças e jovens devem ver TV para não se tornarem alienados sociais cai totalmente por terra: quanto mais assistem TV, mais a sós ficam e passam menos tempo com amigos.
Parece-me que esse isolamento social não é somente uma consequência do tempo que os telespectadores ficam bestificados em frente a TV. É possível qu eeles acostuma-se a entrar em contato virtual com as pessoas, e começam a ter dificuldades de se relacionar frente a frente com elas (a situação é muito pior com a internet, mas esse não é o tema desse artigo). Talvez se perca também o costume de conversar, pois quando se esta assistindo TVl, cada um está em seu estado de sonolência e não existe mais interesção com as pessoas.
No estudo de Myrtek e Scharff ficou constatado que "crianças e adolescentes que veem muita TV mantem menos conversação com outras pessoas, estão sozinhas com maior frequência, e passam menos tempo com amigos." Patazlaff (2000) cita uma pesquisa feita na Alemanha em 1996, com o resultado de que 57% dos alemães questinados manifestaram um crescente receio da influência negativa dos "novos meios" sobre a comunicação pessoal. Seu livro tem uma seção de conteúdo preocupante: devido ao isolamento social produzido pelos meios eletrônicos, as crianças e jovens estão falando muito menos do que antigamente. Ele chama a atenção para o fato de que: "...durante milênios a fala envolvia as pessoas tão naturalmente quanto o ar que respiravam; crianças cresciam dentro dela por si próprias, o aprender a falar parecia um dom da natureza. Se alguém quisesse dar uma instrução aos pais de que eles deveriam falar suficientemente com as suas crianças, isso seria tomado como uma piada, assim como se se recomendasse a alguém respirar. Mas o que uma vez foi tão óbvio, hoje não mais o é. Não foi uma piada uma das maiores empresas de seguro de saúde na Alemanha ter ha pouco (1997) decidido editar um livro para pais com o título Sprich mit mir ! (Fale Comigo!), a fim de incentivá-los a falar com seus filhos."
A inteção era diminiur os gastos que ela estava tendo com tratamentos fonoaudiólogos. Ele ainda cita uma pesquisa constatando que, na Alemanha, as mães tem hoje em média 12 minutos por dia para falar com seus filhos. Menciona ainda uma pesquisa da fonoaudióloga S. Ward que relatou em 1996 o resultado de uma pesquisa de 10 anos, indicando que 20% das crianças de 9 meses (!) examinadas ja manifestavam atrasos no desenvolvimento corporal, se os pais usavam a TV como baby sitter. Se esse uso da TV continuava, crianças com 3 anos de idade ja apresentavam atrasos de um ano, isto é, "falavam a linguagem de uma criança de 2 anos, e com isso todo o desenvolvimento era prejudicado." Obviamente, o tempo despendido com os meios eletrônicos, e o fato de que ao se usá-los em geral, fica-se mudo, influenciam essa terrível situação. No entanto, parece-me que há também um fator mais profundo: a falta de interesse pelo mundo real, substituído pelo mundo virtual. Com isso, há menos sobre o que falar.
Christakis e colaboradores (2009) fizeram a primeira pesquisa de campo para medir "os efeitos de crianças verem TV na frequência e natureza das interações entre crianças e adultos numa amostra populacional fora de um laboratório." Em sua pesquisa 329 crianças de 2 meses a 4 anos de idade vestiram um colete com um peqeuno gravador, que deviam usar por períodos de 12 a 16 horas, uma vez por mês, com uma média de participação de 6 meses. Um programa de análise de sons denominado LENA contou posteriormente o número de palavras faladas pelas crianças, pelos adultos e pela TV. Como resultado, "cada hora adicional de exposição a TV foi associada a uma diminuição de 770 palavras que as crianças ouviram de um adulto drante as sessões de gravação, o que representa um decréscimo de 7%...Nós encontramos que a TV estar ligada estava associado com reduções significativas em contagens de palavras dos pais, vocalizações das crianças, e períodos de conversa com crianças de 2 a 48 meses de idade.
Algumas dessas reduções são provavelmente devidas às crianças serem deixadas em frente à tela de TV, mas outras provavelmente refletem situações em que adultos, embora presentes, tem sua atenção desviada pela tela e não interagem com seus filhos de uma maneira distinguível. Em um primeiro momento, esses resultados podem ser inteiramente intuitivos. Isto é, pais interagem menos com suas crianças quando a TV esta ligada. No entanto esses resultados devem ser interpretados a luz do fato de fabricantes de DVDs infantis afirmarem que seus produtos são projetados para dar a país e filhos uma chace de interagirem uns com os outros, o que peca pela fata de evidência empírica. Além disso, dado que 30% dos lares americanos mantém a TV ligada todo o tempo, nossos resultados levatam a questão de quantas oportunidades de vocalizações entre páis e filhos estão sendo eliminadas. Nossos resultados podem explicar parcialmente as associações que foram encontradas anteriormente entre crianças verem TV e atraso no desenvolvimento lingúistico. Além disso, eles podem explicar atrasos de atençao e de cognição, ja que ja foi colocado que a linguagem pode ser um mediador crítico tanto para a capacidade de atençao como para a de pensar." É interessante acrescentar que os pesquisadores tiveram o cuidade de "controlar explicitamente características individuais e familiares que poderiam viciar os resultados."
Jane Healey, em seu livro (1990), cita uma ampla pesquisa na Inglaterra na qual se achou "que o fator mais potente para predizer resultados escolares foi o tempo empregado em ouvir histórias interessantes. Os autores acreditam que tais atividades ensinam as crianças em primeiro lugar sobre o modo como as histórias (e, depois, outras coias que elas leem) são estruturadas, bem como tipo de linguagem que pode ser esperada em uma variedade de textos escritos. Mais importante ainda, entretanto, é comprometer as puras palavras como a principal fonte de significado. Devido ao fato de palavras não virem com figuras associadas a elas, a criança deve fazer um esforço para enfrentar "o potencial simbólico da linguagem", o seu poder de representar a vivência independemente do contexto do que aqui e do agora".
Ja que mencionei o problema do desenvolvimento da linguagem, cito uma pesquisa de Zimmerman, Christakis e Meltozoff (2007) com pais de crianças entre 2 e 24 meses, verificando o desenvolvimento da linguagem por meio do vocabulário. Eles constataram que "esta análise revela uma associação altamente negativa entre ver DVDs ou vídeos para bebês e a aquisição de vocabulário em crianças de 8 a 16 meses de idade...cada hora de assiti-los corresponde a uma diferença de 6 a 8 palavras para a criança típica, entre as 90 incluídas no CDI (o padrão de testes de linguagem usado). "Eles não detectaram nenhuma influência entre 17 a 24 meses de idade, mostrando que ela ocorre principalmente duratne a formação básica da linguagem. Esse fato sugere-se extrapolar isso para qualquer formação básica, seja de coordenação motora, de sentimentos ou de cognição e de pensamentos (cujo desenolvimento passa-se até o fim da idade escolar).
O aumento do medo visto no item 5.5 e as mudanças de atitudes devido a ele claramente afetam o realcionamento social e a visão de mundo das pessoas. Portanto, a enorme incidência de violência na TV está afetando negativamente esse relacionamento. Finalmente, vou citar um depoimento pessoal. Minha saudosa tia Esther de não poder visitar mais seus amigos a noite, pois estavam assistindo novela.
5.14 Aceleração do desenvolvimento
Uma das consequências garantidas dos meios eletrônicos, e em particular da TV é uma aceleração do desenvolvimento, principalmente mental. Infelizmente, muitas pessoas acham que essa aceleração é desejável, quando ela é, na verdade, altamente prejudicial
A aceleração do desenvolvimento nas crianças causadas pela TV foi objeto do livro do conhecido pesquisador, precocemente falecido, Neil Postman (1999). Nesse livro, ele traça a história do conceito de infância, mostrando que é muito recente (por exemplo, nas pinturas de renascença, as crianças eram retratadas como adultos em miniatura), e deveu-se a escolarização: antes disso, as crianças ajudavam os pais nas tarefas caseiras e no campo, isto é, ja trabalhavam assim que essa ajuda podia ser efetiva. No entanto, ele reconhece que os meios de comunicação, especialmente a TV, transmitem às crianças imagens do mundo adulto - mesmo em programas ditos "infantis" - o que acaba por produzir, na expressão usada por ele, o desaparecimento da infância.
Mas a aceleração náo é só mental. Parece óbvio que assisr cenas sensuais ou eróticas produz uma acelarção no desenvolvimento sexual. A esse respeito, Brown e colaboradores (2006) mostraram o efeito da TV em relações sexuais prococes. Os autores examinaram adolescentes, primeiramente entre 12 a 14 anos e depois 2 anos mais tarde. Usando uma autoavaliação com áudio de computador, os examinados relataram exposições a TV, música, cinema e revistas durantes um mÊs. Em seguida os pesquisadores analisaram o conteúdo sexual dos meios de cominicação e criaram um índice composto para cada nível de exposição. Eles encontraram que os 20% de adolescentes com mais exposição a transmissões explicitamente sexuais aos 12 e 14 anos tinham 2,2 vezes mais chance de ter tido relação sexual dois anos depois dos que estavam nos 20% de menor exposição. Novamente temos aqui o que denomino de elaborate elucidations of the obvious. Qualquer pessoal com um pingo de bom sendo diria que a exposição a atos que envolvem algo relacionado com sexualidade (em minha opinião, desde os beijos ardentes!) leva as crianças e jovens a acelerarem seu desenvolvimento sexual. Um desenvolvimento sexual precoce obviamente significa uma perda parcial da infância e da juventude e uma aceleração indevida da maturação.
A aceleração da sexualidade é apenas uma das graves acelerações que os meios eletrônicos produzem. Obviamente, quando uma criança assite um programa de TV que não é próprio para sua idade, algo de ruim esta acontecendo, pois ela não pode absorer adequadamente o contéudo. O problema geral da aceleração precoce deve-se ao foto de que o ser humano é um todo, é um ser holístico. Qualquer desenvolvimento unilateral significa a produção de um desequilíbrio. Por exemplo, no caso da aceleração da atividade sexual, isso claramente coloca o jovem face a questões que deveriam requerer uma boa dose de maturidade emocional e mental. Por exemplo, o uso de preservativos é uma questão de responsabilidade, seja em relação a saúde quanto a gravidez em meninas adolescentes. Mas não há um desenvolvimento da responsabilidade ao haver uma aceleração da sexualidade. Igualmente, não há um desenvolvimento psicológico para enfrentar os problemas que aparecem com a relaçõe sexuais.
Em educação, ha idade para tudo. Esse é um dos princípios fundamentais da Pedagogia Waldorf (Lanz 1998), que é uma das principais fontes de seu sucesso: nela ha um cuidado extremo em não acelerar o desenvolvimento das crianças e jovens, com especial ênfase ao cuidado de nao haver um desenvolvimento intelectual precoce. Por isso, nessa pedagoria, as crianças só aprendem a ler, e muito vagarosamente, a partir de 61/2 ou 7 anos de idade. Visite-se um jardim de infância Waldorf para entender, vendo, o que querl dizer com preservação da infantilidade. Estou para encontrar uma única pessoa que não se entusiasme com o que é feito nesses jardins e reconheça que neles as crianças são muito mais felizes e infantis.
5.15 Prejuizo pra a criatividade
O que é ser criativo? (Seria intressante o leitor tentar responder antes de continuar.) Em uma palestra que assisti dada peloconhecido sociólogo italiano Domenico Di Masi (o propugnador da "cultura do lazer"), ele deu uma caracterização muito boa: criatividade, é a confluência de fantasia com "concretividade". Fantasia é a capacidade de se ter idéias novas, sob a form de conceitos ou imagnes. "Concretividade" é a capacidade de se realizarem as idéias na prática, construindo objetos, instituições, situações sociais, que sejam úteis, para a propria pessoa ou para a sociedade. Com muito humor, ele disse que uma pessoa que so tem fantasia e nenhuma "concretividade" é um diletante, isto é, cultiva algo que não serve para nada. (A propósito, todos os anos eu conto isso para meus alunos e, invariavelmente, nenhum sabe o que é diletantismo - para mim, uma demostração de falta de leitura). Por outro lado, uma pessoa só tem concretividade e nenhuma imaginação é um verdadeiro burocrata, incapaz de sair das regras que determinam todas as suas ações.
Pois bem, como vimos nos ítens 2 e 4, a TV apresenta sempre imagens prontas, em geral sucedendo-se em grande rapidez. Com isso, ela impede a criação de imagens mentais próprias, prejudicando, com o tempo, a capacidade de criá-las interiormente. Isso é particularmente trágico com crianças, que devem passar pela fase de viver na fantasia. Por exemplo, para uma criança pequena tudo é animado, tem vida; assim, é correto um pai censurar uma cadeira na perna da qual uma criança tropeçou. Uma criança que perdeu a capacidade de fantasiar não se comporta mais como criança sadia; pvovavelmente, será um jovem ou adutlto com problemas psicológicos, de aprendizagem e, que m sabe, sociais. Típico desse tipo de criança é a incapacidade de inventar constantemente novas brincadeiras, o que deveria ser absolutamente normal.
Esse era o caso de meus filhos qundo eram pequenos - apesar de não termos tido TV em casa, eliminando assim o mal pela raiz, as crianças da vizinhança adoravam vir brincar em nossa casa, pois as nossas não paravam de inventar novas brincadeiras. Alias, todos os 4 são ainda muito criativos (a mais velha tem 42 anos), sempre me surpreendo pela criatividade; certamente a educação escolar Waldrof, com sua intensa atividade artística em todas as séries, ajudou imensamente nesse ponto. Meu terceiro filho tornou-se aos 34 anos vice presidente para o Brasil de uma das maiores empresas de software do mundo, graças, parece-me, a sua fantástica habilidade de liderar pessoas carinhosamente e de resolver criativamente conflitos sociais e profissionais.
Segundo Thakkar, Garrison e Christakis (2006), "psicólogos descrevem a imaginação do brincar infantil como importante para o desenvolvimento cognitivo, moldando as maneiras com que as crianças interagem com seu ambiente." Patzlaff (2000) tem uma seção dedicada ao fato de se dever incentivar a criação de imagens interiores. Ele cita o fisiologista especialista nos sentidos Horst Prehn: " Em crianças que sentam de 10 a 15 horas diárias frente a TV, o córtex cerebral é vazio como um deserto. Elas sofrem uma perda total da capacidade de imaginação. Algumas crianças não tem nem mesmo a capacidade de desenhar de memória um objeto de uso diário como uma xícara." Patzlaff cita ainda um artigo de D. Singer (1005) em que esta diz: "Comparando-se os dados sobre comportamento ao brincar e consumo de TV, verificamos que aqueles que menos viam televisão tinha maior fantasia."
Para se ter "concretividade", é necessário ter um profundo conhecimento e sendo prático da realidade do mundo e do relacionamento social. Portanto, ela também é prejudicada pela TV, pois nela tudo é virtual, prejudicando-se o sendo da realidde necessário par realizar coisas práticas úteis, ou mesmo, no caso de crianças e jovens, não se chegando a desenvolvê-la. Isso é particularmente trágico com relação a crianças de menos de 8 anos de idade, pois ainda não distinguem claramente fantasia de realidade (ver ítem 5.12). Assim, a TV prejudica a criatividade.
Uma das consequências trágicas da acelração do desenvolvimento abordada no item anterior é justamente o prejuizo que isso traz para a criatividade. De fato, quando ainda não desturpadas pela TV e pelos outros meios eletoônicos ou uma intelectualização precoce, quase todas as crianças são extremamente fantasiosas. Antes dos 9 anos, pode-se dizer que, quando ainda são saudávels, elas "vivem no mundo da fantasia". Uma das coisas perniciosas garantidas que faz a educação normal no lar e na escola é matar a fantasia. Ora, poder-se-ia dizer que o adulto imaginativo, que sabe fantasiar, é aquele que preservou essa capacidade desde a infância. Infelizmente, matando a fantasia na idade infantil, não se conseguirá ter um adulto imaginativo e criativo.
Encontrei algumas pesquiss ou textos sobre esse tema, inclusive na resenha de Thakkar, Garrison e Christakis (2006), mas somente em relação ao "brincar imaginativo". Vanderwater, Bickman e Lee (2006) fizeram uma pesquisa com crianças, por meio de questionários. Eles levantaram várias influências da TV, entre elas no que denominam "brincar criativo", em oposição ao "brincar ativo", que envolve atividades físicas. "Descontando interações sociais, assitir TV mostrou que a maior relação negativa foi com o tempo que crianças dedicam ao brincar criativo. ... nossos resultados estão de acordo com pesquisas experimentais examinando o impacto do TV na criatividade de crianças na zona rural canadense. Especificamente, Willians (1986) e seus colaboradores descobriram que crianças que viviam numa comunidade sem televisão inicialmente obtinham mais pontos em uma medida de criatividade que crianças com acesso ou a um só canal de TV ou a múltiplos canais. Entretanto, uma vez introduzida a TV, os pontos de criatividade dessas crianças cairam a níveis semelhantes aos das crianças com TV."
No entanto é preciso cautela quanto a isso, pois os autores não citam o tipo de "brincar imaginativo" envolvido. Depois de assistir algum programa na TV é óbvio que crianças pequenas quererão imitar os personagens, aparentemente fantasiado. Mas, na verdade, pode-se tratar de pura imitação, e não de criatividade; é conhecida a influência do horroroso programa violento "Power Rangers" nos gestos das crianças. Tenho certeza que, como sempre ocorreu, minhas considerações conceituais colocadas acima poderiam ser comprovadas cientificamente. Citei neste item a questão do preuizo que a TV faz para a capacidade de fantasiar, isto é, ter novas idéias. Estou seguro de que a TV prejudica a capacidade de pensar como um todo pois, como discorri no capítulo 3, ela abafa o pensamento. Isso é particularmente trágico com crianças e adolescentes, que justamente estão desenvolvendo-o.
5.16 Autismo
Waldman, Nicholson e Adilov (2006) fizeram um rigoroso e extenso estudo mostrando uma alta correlação entre crianças bem pequenas (menos do que 3 anos de idade) verem TV e aumento na incidência de autismo infantil. Eles citam dados de que na década de 1970 nos EUA uma em cada 2500 crianças eram autistas, ao passo que atualmente a proporção aumentou mais de 9 vezes, para uma em cada 166 crianças. Em 1991 foram passadas leis naquele pais obrigando a relatar casos de autismo; seria de se esperar que os casos citados aumentassem, o que realmente aconteceu, mas também seria de se esperar que, depois de alguns anos, o aumento do número de casos se estabilizasse, o que não ocorreu.
Por exemplo, segundo o Ministérioda Educação americano (US Department of Education) em 4 anos a partir de 1999-2000 o número de casos de autismo mais do que duplicou. Os autores citam estudos estimando custos anuais para o autismo de 35 bilhões de dólares naquele pais. Desde 1964 sabe-se que há fatores genéticos envolvidos no autismo, mas que deve haver algum fator externo que o dispara. Eles acabaram por encontrar que "...os dados de longo prazo de taxas de autismo são consistentes com a hipóteses de que a TV é um disparador para o autismo em crianças que começam a ver TV muito cedo."
5.17 O problema do vício
Parece-me que a TV vicia pois o telespectador acostuma-se em entrar no estado de sonolência descrito no capítulo 3. Nesse estado ele fica com o pensamento abafado e, portanto, alienado de sua realidade, deixando de se preocupar, enquanto a assite, com os problemas de sua vida - até mesmo com a fome !! Crianças e adolescentes tendem também a viciar-se na TV, o que é bem caracterizado pelo fato de, se chamados pelos pais, não querem parar de assisti-la, como se estivessem viciados nela. A esse respeito, é importante citar o trabaho de Christakis e Zimmermann (2006), onde eles examinaram dados de 1331 crianças, que assitiram em média 2,64 horas de TV antes dos 4 anos e 3.62 horas na idade de 6 anos. Como resultado, "concluimos que exposição muito cedo á TV foi associada com um aumento de probabilidade de resistencia a desliga-la na idade de 6 anos. Este resultado estava presente mesmo quando foi feito um controle sobre o numero de fatores que poderiam perturbar o resultado, incluindo o número de horas de TV assistidas na idade de 6 anos e características de comportamento tanto na idade de 4 como de 6 anos que poderiam predispor as crianças a protestarem."
Eles conjeturam que esse resultado pode ser devido a criação de hábito ou dependência de ver TV, "... entretanto, parece plausível que a exposição a TV durante períodos críticos de desenvolvimento do cérebro poderia induzir uma necessidade crescente por ela. Em segundo lugar, nossos resultados sugerem que uma ação preventiva pode ser tomada a respeito ao interesse na TV por crianças em idade escolar: limitar a exposição de crianças pequenas a TV durante os primeiros 4 anos de idade pode diminuir seu interesse por ela posteriormente." Ora, pois, se limitar é bom, cortar de vez é muito melhor! ESte é um exemplo típico de autores que não tem coragem de propor a eliminação praticamente total da TV.
Crianças e adolescentes são, naturalmente, muito mais propensos a se viciarem no uso de meios eletrônicos, simplesmente por não terem uma autoconsciência e um autocontrole tão desenvolvido quando os adultos. Além disso, com eles os efeitos negativos do vício são obviamente muito maioes do que com adultos, pois os primeiros estão em formação. O estudo de Ennmoser (2003) mostrou que o tempo de ver TV em crianças pequenas prediz o tempo de ver TV em idades infantis posteriores (ver ítem 5.10); o de Johnson et al. (2007) deu o mesmo resulado com adolescentes (ver item 5.11). Assim, ver TV em uma certa idade infantil ou juvenil induz a ver TV mais tarde, o que pode ser considerado uma espécie de vício.
Na cidade de Denver, Colorado, EUA, o jornal DEnver Post convovou em 1974 famílias para fazerem a experiência de desligar a TV durane um mês; naquela época não havia ainda surgido movimentos como "desligue a TV por um dia" ou "por uma semana". 25 famílias inscreveram-se ], mas apenas 15 conseguiram manter a TV desligada por um mês inteiro. Nos relatórios preenchidos por essas familias, todas disseram que o começo foi dificílimo, pois as pessoas não sabiam o que fazer, havia brigas constantes na familia, etc. No entanto, todas relataram que, com o passar do tempo, cada pessoa encontrou algo para fazer, como ler, jardinagem, tocar um instrumento, conversar, etc. e relataram unianimemente que a qualidade de vida tinha melhorado muito. O mais impressionante da experiência é que, no seguimento feito pelo jornal, todas as fam~ilias voltaram a ver TV !!! Em outras palavras, um mês não bastou para acabar com o vício.
5.18 Indução ao consumismo
Li em algum lugar que no Código de Hamurabi, elaborado em cerca de 1740 aC, havia uma lei que, se um adulto vendesse algo a uma criança, ele devia ser morto. Infelizmente, não encontrei esse item nesse código, mas vamos supr que ele seja verdadeiro. Nesse sentido, que regresso fez a humanidade? Hoje em dia, abunda a propaganda ostensiva dirigida para crianças. A Academia Americana de Pediatria calcula que a criança média assistia na TV mais de 20.000 anúmcios comerciais por ano (AAP 2007). Certamente uma boa parte deles é dirigida as crianças, pois os anunciantes ja perceberam há tempos que os desejos das crianças influenciam as compras dos pais, desde brinquedos até o modelo de automóvel novo.
A propaganda dirigida a crianças é absolutametne criminosa, pois elas não tem capacidade de crítica e de discernimento para decidirem o que é bom ou ruim, necesssário ou desnecessário, para reconhecerm se a propaganda é enganosa (como uma boa parte é!). REcomendo fortemente a leitura e estudo do extraordinário livro de Susan Lin CRianças do Consumo: A infância roubada (Linn 2006), onde ela expõe a situação da propaganda dirigida para crianças. Por exemplo, ela cita algo muito interessante: as empresas de propaganda fazem mais pesquisa em psicologia do que as universidades e institutos de pesquisa - para descobrirem como empurrar seus produtos.
Ela revela que, se um produto é dirigido a alguma idade, a propaganda televisiva mostra crianças alguns anos mais velhoas, pois crianças sempre querem ser mais velhas. Ela mostra também como certas propagandas induzem uma mentalidade totalmente errada, como por exemplo uma com o grotesco palhaço Ronald Macdonald, que leva crianças para um concerto, para um museu, e outros locais culturais, onde se as vê bocejando de monotonia. Ai ele as leva a um Macdonald e as crianças aparecem felizes, brincando, gritando, etc., obviamente comendo o típico junk food lá oferecido. Uma total inver~so de valores ! Outras propagandas são dirigidas explicitamente para crianças chocarem-se contra os pais, ensinando-as como convencê-los a comprar o que elas querem.
Pais devem aprender a recusar pedidos de seus filhos para comprarem seja la o que for. Essa compra não pode estar vinculada ao desejo dos filhos, mas a uma decisão independente dele. As vezes esse desejo não provém de uma propaganda, mas daquilo que outras crianças estão usando. Vou Citar um exemplo pessoal. Numa certa idade de minha filha, mais velha, apareceram pela primeira vez sandálias de plástico; vendo outras crianças ou adolescentes usando-as, ela pediu um par. REcusamo-nos a comprar um, dizendo-lhe que plástico não é um material saudável para calçados, e que se ela precisasse de uma sandália, compraríamos uma que ela gostasse, mad de couro (que é o material que minha esposa usa hoje).
A propósito, minha filha não podia comprar por conta própria um par daquelas sandálias pois, como os outros nossos filhos, jamais ganhou mesada. Mesada serve para uma criança ou adolescente poder comprar coisas com as quais os pais não estão de acordo. Muitos pais acham que mesada desenvolve uma noção do valor do dinheiro e de como usá-lo economicamente. Quem sabe isso é fato, mas é totalmente desnecessário, pois como ja citei no fim do ítem 5.14, ha idade adequada para tudo. A vida vai mostrar ao jovem adulto como ele dve tratar do dinheiro, e o resto da vida ele terá que lidar com isso; para que começar precocemente com essa problemática?.
Assim, não é necessário (pelo contrário, é prejudicial) começar com isso na infância ou na adolescência. Isso ocorremu com meus 4 filhos: a mesada nunca foi necessária pois se necessitavam de algo razoável, eles o ganhavam, ou o dinhieoro correspondente para a compra. Aos 18 anos, colocamos cada um em uma conta bancária conjunta conosco, de modo que pudessem gastar na medida das necessidades sem ficar pedindo para nós e se justificando. O resultado foi exclenete; nunca tivemos problemas com exageros, pelo contrário, as vezes tinhamos que ir fazer compras com eles pois eles não se sentiam bem em gastar o dinheiro da familia e exageravam na economia. Claramente, esse resultdo depende da maneira geral de educar as crianças e adolescentes. Como, por causa de nossos filhos, não tínhamos TV, eles não eram influenciados pela propaganda. De qualquer modo, a educação que lhes demos funcionou, e muito bem, não só nesse, mas em muitos outros aspectos.
Crianças não deviam ser levadas pelos pais a supermercados, shopping centers, etc. São locais muito agitados, e crianças precisam de calma. No entanto, se isso for inevitável, os pais devem, desde o começo, isto é, quando as crianças forem muito pequenas, acostumá-las a não terem seus desejos de compra satisfeitos. Se uma criança pede algo, esse algo não devia ser comprado, por princípio. É óbvio que, se uma criança deseja muito alguma coisa, e esta for educacionalmente saudáve e adequada, poderá ganhá-la em uma ocasião especial, como seu aniversário, Mas jamais algo deveria ser comprado logo após o desejo manifestar-se. A criança que tem muitos de seus desejos satisfeitos acaba tiranizando e dominando o país. Além disso, não se costuma a suportar limites, naturais em uma vida social.
Não se deve subestimar o poder da propaganda na TV de influenciar as pessoas, principalmente crianças e adolescentes. Obviamente, grandes empresas não gastariam centenas de milhões de dólares por ano em propaganda na TV se ela não funcionasse ! Como um exemplo concreto, Susan Linn, em seu excelente livro ja citado, menciona que o Macdonald's, só em 2002, só nos EUA, só na TV, gastou US$ 510,5 milhões de dólares (Linn 2006). Um argumento que poderia ser dado seria que essas quantias milionárias são gastas na propaganda na TV pois é o veículo de comunicação mais difundido. Só que, repito, esse gasto não existiria se essa propaganda nao funcionasse, isto é, não cindicionasse os telespectadores ao consumo.
Depois de verem muita propaganda do Macdonald's crianças, adolescentes, ou adultos passam na frente de uma lanchonete dessa rede, e sentem vontade de comer algo nela, sem saberem porque. O realtório sobre TV da Kaiser Family Foundation, uma organização muito confiável, relata que 83% dos pais de crianças de 4 a 6 anos e 77% dos pais das de 2 a 3 anos afirmaram que essas crianças imitam o comportamento visto na TV; ja crianças de menos de 2 anos imitam muito menos (27%) (Rideout e Hamel, 2006). Essa imitação de comportamento é natural para crianças de menos de 7 anos na vida real (ver o ítem 5.12); no entanto, como se vê, aplica-se também ao que é visto na TV, o que é uim prato cheio para a propaganda.
Minha esposa Sonia tem uma interessante teoria: crianças adoram ver propaganda na TV pois é a únic coisa que ser repete, e elas adoram repetições, e ritmos (que serão tratados em detalhe no item 5.23). Logo depois de eu ler um livro infantil para minha netinha Luana, com 4 anos na época em que escrevi o origina desse artigo, ela imediatamente dizia "de novo!", mostrando como crianças adoram repetições. REpetição constante é uma das técnicas de condicionamento usada pela propaganda.
Há alguns anos atrás, li em uma coluna de Betting que, no Brasil 2/3 dos gastos totais com propaganda iam para a TV. A propaganda na TV funciona pois, como vimos no capitulo 3, o telespectador esta normalmente em estado de sonolência, não critica o que vê, e tudo é gravado em seu subconsciente - a situação ideal para a propaganda que, como vimos no capítulo 4, é a técncia de fazer as pessoas comprarem o que não necessitam, ou o que é mais caro, ou é de qualidade inferior. Seria terrível par a propaganda se os seus receptores criticassem-na, verificando os argumentos usados, comparando mentalment com outro produtos, etc. Nada disso um telespectador normalmente consegue fazer!
Um outro aspecto é que a indução do desejo de consumir um produto vai frontalmente contra a a liberdade individual. Isso é particularmente trágico com crianças e adolescentes, que deveriam lentamente desenvolver sua liberdade, até poder exercê-la plenamente aos 21 anos de idade. Em lugar idsso, são condicionadas pela propaganda. Note-se que o estabelecimento da idade de 21 anos para a responsabilidade civil remonta a uma antiga sabedoria sobre o desenvolvimento do ser humano. O correto seria as empresas fazerem promoção de seus produtos, isto é, anunciarem objetivamente suas características e qualidades, e não convencerem as pessoas a comprarem-nos.
Além do atque ao livre arbítrio (uma das minhas hipótese fundamentais de trabalho é que ele pode existir em qualquer ser humano, a propaganda claramente apela para o egoísmo, a ambição e a competição. Penso que elas estão entre as fontes principais da degeneração social que estamos presenciando no mundo todo. As crianças deveriam ser educadas para a compaixão, o altruismo e a cooperação, caso contrário a presente degeneração vai continuar.
Uma das causas do aumento brutal do excesso de peso e obesidade, como visto no item 5.1, é a ingestão de salgadinhos, docinhos e refrigerantes, induzida pela propaganda vista na TV. Isso se soma à inatividade física e mental do telespectador, como vimos no capítulo 3. A propósito, refrigerantes são absolutamente desnecessários, ao contrário, são prejudiciais à saúde, devido ao grande conteúdo de açúcar e de aditivos. Jamais eu e minha esposa tivemos ou temos refrigerantes em casa; nos aniversários de nossas crianaçs servíamos sucos naturais. (A propósito, fui eu quem introduziu em português o uso popular da expressão "produtos naturais", em 1976.)
É importante citar aqui o esforço enorme que o Instituto Alana de São Paulo está fazendo para evitar que propaganda seja dirigida às crianças. Ele tem um setor dedicado exclusivamente a esa campanha, tendo feito várias ações jurídicas no sentido de impedir a veiculação de propaganda pra crianças, por exemplo as vinculadas a brindes infantis que vêm com o produto comprado. Em particular, o Instituto editou o vídeo "Criança, a Alma do Negócio", que mostra muito bem o problema de crianças serem influenciadas pela propaganda, querendo que os pais comprem o que assitem na TV, e como os pais sentem-se impotentes para recusar. O instituto Alana editou ainda o excelente livro "Por que a publicidade faz mal para as crianças, que pode ser solicitado diretamente em seu projeto Criança e consumo. Nesse folheto, há mais um ponto muito interessante: a propaganda sempre acaba por induzir nas crianças um desdém pelos pais, pois estes não conseguem comprar tudo o que elas passam a desejar a partir da propaganda televisiva. Nele encontra-se uma analogia também muito interessante: ninguém pode entrar em casa qualquer e dizer às crianças da família o que é bom para elas - poi isso é justamente o que faz a TV.
Uma notícia recente relata que a TV Cultura de São Paulo deixou de transmitir propaganda nos intervalos de seus programas infantis. Obviamente, isso foi feito por ela ter reconhecido, infelizmente tardiamente, o mal que isso representa. Assisti programas infantis dessa emissora na tarde de 01/12/2008, antes de ser entrevistado no programa "Roda Viva" daquela noite. Com eu esperava, os programas transmitiam figuras gortescas, absolutamente inapropriadas para crianças - seguindo a recomendação da Associação Médica Americana, a TV Cultura anuncia que os programas jsão para crianças de mais de 2 anos; se os pais seguirem a recomendação, pelo menos até ai elas estão salvas! Mas fiquei particularmente horrorizado com as propagandas transmitidas nos intervalos, inclusive com cenas de muita violência associadas a alguns brinquedos de guerra e luta. Infelizmente, os canais comerciais não farão a mesma restrição, pois isso seria suicídio comercial, como mencioonaou Centerwall (1992), ja citado no capítulo 4. Vale a pena lembrar o que ele afirmou: o negócio da TV comercial é vender número de telespectadores aos anunciantes. Nada mais fácil do que vender crianças e adolescentes, se os pais erradamente deixam-nos assistir TV.