VERDADES INCONVENIENTES

Perícia criminal no Brasil é extremamente precária, aponta levantamento

pericia_criminal1Por Bruno Câmara, 17/03/2011 - Levantamento feito em todo o país constatou que a perícia criminal - salvo raríssimas exceções - é tão precária que beira a indigência. A polícia não tem a parafernália tecnológica da ficção do seriado de TV CSI, nem possui o estritamente necessário. Não há maletas para perícia de local de crime, câmaras frias decentes para conservação de corpos, reagente químico ou laboratório para os exames mais elementares.

A apuração é do jornal O Estado de S. Paulo. Em todo o Brasil, existem apenas 60 Institutos de Criminalística e de Medicina Legal (ICs e IMLs) para examinar causas de mortes e produzir provas criminais. Para atender aos 5.560 municípios, seriam necessárias 360 unidades desse tipo, ou seis vezes mais, uma média de um instituto para cada 15 municípios. Existem pouco mais de 12 mil peritos para atender a todos os Estados nas 32 especialidades de perícia criminal adotadas no país. A correlação recomendada por organismos internacionais é de um perito para cada 5.000 habitantes. Para todo o território, seriam necessários 38 mil profissionais, o triplo do quadro atual.

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Em alguns Estados, as velhas geladeiras dos IMLs estavam quebradas, produzindo mau cheiro e cenas degradantes. Há locais em que, nos acidentes de trânsito, os corpos das vítimas ficam até dez horas na estrada à espera de remoção. Por falta de câmaras frias, pessoas são sepultadas às pressas, sem autópsia, e só depois exumadas para conclusão de exames que vão detectar se a morte derivou de crime, acidente ou causas naturais.

A reportagem enviou nas últimas duas semanas às 27 unidades da federação um questionário perguntando se as polícias tinham ao menos os itens essenciais para a realização de perícias criminais: a maleta com kit de varredura de locais de crime (notebook, GPS, trena a laser, máquina fotográfica digital, etc), exame de DNA, exame de balística (com microcomparador), câmaras frias (para preservação de corpos), cromatógrafos gasosos, luz forense, laboratório de fonética, reagente químico e luminol. Sem eles, é impossível produzir prova científica cabal para esclarecimento de crimes.

Na média nacional, a perícia criminal brasileira foi reprovada porque apenas 37% das respostas foram positivas. De um total de 207 itens - 9 para cada um dos 23 Estados que responderam ao questionário -, só 78 foram assinalados "sim". Os 63% restantes responderam "não" (45%) e "parcialmente" (84%). Em muitos casos, parcialmente é quase nada.


Assassinatos: só 10% são resolvidos no Brasil


29.09.11 - Falta de peritos colabora para índice baixo; nos EUA, 65% são solucionados e, na França, 80%. O índice de homicídios solucionados no Brasil é de 5% a 10% em média por ano, ante 65% nos EUA; 80% na França e 90% na Inglaterra. O déficit de 30 mil profissionais de perícia colabora para que a maioria dos crimes fique impune. Segundo o jornal O Globo, a falta de equipamentos piora a situação, a ponto de peritos não tirarem fotos do local do crime ou deixarem de fazer raio-X para localizar balas em um corpo. O Brasil tem apenas 6,5 mil peritos nas polícias estaduais, segundo a Associação Brasileira de Criminalística. Segundo recomendação da ONU, precisaria de 38 mil para ter o mínimo de um perito para cada cinco mil habitantes. A associação afirma que a falta de concursos é um dos motivos do déficit.

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O Piauí tem o pior quadro, com apenas 21 peritos. Alagoas, o Estado mais violento (pelo mapa da violência do governo federal), tem 34 peritos. Apesar do quadro de penúria, casos de grande repercussão, como o assassinato da juíza Patricia Acioli, no Rio, têm trabalho pericial exemplar. Além da perícia no corpo e no local, foram analisados dados de mais de três milhões de celulares para provar o envolvimento de três policias militares no crime. Já a morte de Jéssica Afonso Guimarães, aos 10 anos, em 2006, continua sem solução. Ela foi atingida por uma bala perdida na Cidade de Deus, também no Rio, onde morava. O tio da garota disse ao Globo que a família nunca soube sequer de onde saiu o tiro.

 

Fonte: http://www.biomedicinapadrao.com
http://www.destakjornal.com.br