Fatos Desconhecidos

Por Que Você Paga a Academia e Não Treina?

Por Que Você Paga a Academia e Não Treina?

As academias de rede sabem exatamente como atrair novos alunos, mas o que talvez você nunca tenha percebido é que elas têm truques poderosos para fazer você desistir de treinar e te prender exatamente onde eles querem: na sua casa. Mesmo que você decida ir treinar, o caminho não vai ser fácil.

Resultados rápidos? Esqueça. As academias sabem que você verá poucas mudanças sem a orientação correta nos exercícios, e é aí que o verdadeiro jogo começa. Claro, tudo isso já é pensado. Essas estratégias não são acidentais; elas fazem parte de um modelo de negócios que transforma a sua falta de progresso em um negócio tão lucrativo que não para de se espalhar pelo Brasil.

Por conta disso, hoje somos o segundo país com mais academias no mundo. Isso sem contar com as novas marcas e unidades que abrem dia após dia. E é nesse momento que você se pergunta: o que verdadeiramente está por trás do modelo de negócios dessas academias? Tem mais alguma coisa que eles estão fazendo comigo e eu não estou sabendo? Será que a academia vai me fazer mais mal do que bem no final das contas?

A Evolução das Academias

Alguns anos atrás, as academias eram bem diferentes do que vemos hoje. A maioria era composta por pequenos negócios locais, administrados por instrutores de educação física. Eles montavam espaços simples, com alguns equipamentos, às vezes antigos, enferrujados e até sem tinta. Seria o que hoje chamamos de "academia raiz". Antigamente, era só aquilo que tinha mesmo.

Mas então, em 2009, um homem chamado Edgar Corona teve uma visão de negócios inspirada no modelo americano e fundou a Smart Fit. A proposta era trazer para o Brasil academias modernas, com equipamentos novos, ambientes bem estruturados e preços acessíveis. E, claro, foi um sucesso imediato.

Rapidamente, outras redes surgiram: Bluefit, Selfit, Skyfit, Just Fit, Engenharia do Corpo e muitas outras, todas seguindo o mesmo modelo — espaços bonitos e padronizados, muito marketing e preços quase inacreditáveis, sempre na casa dos R$100. Não demorou para que conquistassem milhares de alunos e se espalhassem por todo o país. A promessa sempre foi irresistível: pagar pouco e ter acesso a uma academia de alta qualidade. Quem iria ficar de fora?

Os Custos e o Modelo de Negócio

Acontece que hoje, uma academia desse tipo precisa arcar com diversos custos mensais para se manter. Se colocarmos na ponta do lápis, podemos fazer uma conta rápida:

Três treinadores recebendo R$2.800 cada por mês.

Dois recepcionistas recebendo R$2.000 cada.

Pelo menos duas pessoas na limpeza recebendo R$1.800 cada.

Impostos que praticamente dobram esses valores.

Manutenção, água, luz e internet, estimadas em R$6.000.

Aluguel, que pode ser a partir de R$40.000, caso esteja em um shopping ou espaço grande.

Royalties da franquia e custos de marketing.

Somando tudo isso, podemos estimar um faturamento mensal necessário de aproximadamente R$121.000 para manter a academia e ainda garantir um lucro de 30%, conforme indicado pelo próprio site da Smart Fit. Isso significa que a academia precisa de cerca de 1.200 alunos pagando R$100 por mês.

Agora, imagine esses 1.200 alunos chegando na academia em plena segunda-feira, às 18h, no horário de pico. O resultado? Aparelhos lotados, filas enormes e uma experiência frustrante e estressante. Muitos desistem antes mesmo de completar os exercícios. No final, esse caos todo gera um único sentimento: desânimo. E adivinha? Quando chegar o próximo dia de treino, você lembrará dessa experiência ruim novamente. Assim, a chance de faltar aumenta.

Não é à toa que, atualmente, de 100% das pessoas que começam a treinar, apenas 3,7% continuam por mais de um ano. Cerca de 50% desistem nos primeiros três meses de academia.

Então, na próxima vez que você se culpar por ser preguiçoso, pense de novo. Talvez seja apenas consequência do modelo de negócios das academias de rede. Quanto mais alunos desmotivados e sem treinar, melhor para a academia. No final das contas, você se torna apenas um número, uma inscrição a mais. A academia continua lucrando, mas você talvez não aproveite tanto quanto gostaria.

O Segundo Problema: A Falta de Suporte

Se você persiste, há outro obstáculo: a falta de orientação adequada. Quantas vezes você já viu alguém treinando errado? E se eu te disser que essa falta de ajuda por parte dos professores também é planejada?

Os treinadores estudam quatro anos na faculdade para aprender a ensinar os exercícios corretamente. Seria ótimo se eles pudessem caminhar pela academia ajudando os alunos a melhorar a execução dos movimentos. Mas a quantidade de alunos é tão grande que eles ficam sobrecarregados.

Sem essa orientação, começam os problemas: tremores ao levantar pesos, desequilíbrios, movimentos errados que resultam em lesões. Sem um acompanhamento adequado, os músculos deixam de ser estimulados corretamente, tornando o progresso mais lento e aumentando o risco de lesões.

E é aqui que entra o marketing interno da academia:

Quer melhores resultados? Contrate um personal trainer.

Precisa potencializar o treino? Temos suplementos e planos nutricionais.

Mas quem recebe esse marketing nunca sabe exatamente se realmente precisa desses serviços. No final, o progresso fica ainda mais lento.

O Maior Problema: Falta de Motivação e Conexão

Apesar de serem modernas e bem equipadas, as academias de rede low-cost não são focadas no seu sucesso como aluno, mas sim no número de assinaturas recorrentes que conseguem mensalmente. Se realmente estivessem comprometidas com seu progresso, elas perguntariam logo no início quais são seus objetivos e traçariam uma estratégia para atingi-los. Mas, na prática, a maioria dos alunos se sente perdida desde o primeiro dia.

Enquanto programas de atividades físicas como corridas ou treinos funcionais têm uma taxa de desistência de 25%, nas academias esse número varia entre 40% e 60% nos primeiros meses. Segundo a teoria da autodeterminação, todos temos três necessidades psicológicas básicas que influenciam nossa motivação:

Sensação de competência.

Vínculos sociais.

Autonomia.

Agora pare e pense: o ambiente de uma academia de rede low-cost atende a essas necessidades? A resposta, provavelmente, é não.

Nessas academias, encontramos tecnologia de ponta, equipamentos modernos, ambientes limpos e preços baixos. Mas há um detalhe importante: a falta de conexão humana. Música alta, luzes escuras e um clima de "cada um por si" criam um ambiente onde o relacionamento social simplesmente não floresce.

Na Noruega, um estudo comparou três tipos de academias:

Academias low-cost, apenas com equipamentos.

Academias multimodais, com aulas funcionais.

Estúdios fitness (como centros de CrossFit no Brasil).

Adivinha quais tiveram alunos mais motivados e engajados? Os estúdios fitness! Eles priorizam o suporte social, um ambiente acolhedor e atividades que promovem conexões entre os alunos.

Como Superar Esses Problemas?

Se você treina em uma academia low-cost e quer melhorar sua experiência, há duas opções:

Levar um amigo para treinar com você e se motivarem juntos.

Engajar-se mais nas atividades em grupo que a academia promove.

Com certeza, seus treinos se tornarão mais prazerosos e motivadores!