A elite do Judiciário brasileiro que vive numa realidade paralela

A elite do Judiciário brasileiro que vive numa realidade paralela

Distrito Federal: Um Espelho da Desigualdade Brasileira. Se você já se perguntou como é possível um país ser tão cheio de contrastes ao mesmo tempo, basta dar uma boa olhada no Distrito Federal. Não estamos falando só das paisagens arquitetônicas ou dos contrastes climáticos — não, aqui a diferença está bem ali, na cara dura da realidade: entre quem vive num mundo à parte e quem mal consegue respirar sob tanta desigualdade.

A Riqueza Que Parece Europa

Vamos começar pelo topo da pirâmide. No Lago Sul, região nobre do Distrito Federal, os números são tão altos que dão vertigem. Com renda média mensal de cerca de R$ 23.000 por habitante, segundo dados da FGV Social, essa área parece ter saído direto de um documentário sobre Paris, Londres ou Nova Zelândia. Sim, você leu certo: lá, o padrão de vida é equivalente ao de países desenvolvidos. A expectativa de vida ultrapassa os 80 anos , quase 7 a mais do que a média nacional. A internet banda larga? Tem em 90% das casas . E esgoto sanitário a céu aberto? Nem sabem o que é.

Parece sonho? Pois é real. Mas, como sempre, há outro lado da moeda.

E a Pobreza Que Parece África

Do outro lado da cidade, longe dos jardins bem cuidados e das calçadas impecáveis, está a Cidade Estrutural. Lá, a realidade é outra completamente diferente. A renda média por pessoa? R$ 480 mensais — menos do que muita gente gasta com almoço em um fim de semana. A expectativa de vida? Mal passa dos 73 anos . E a internet banda larga? Só 38% das residências têm acesso. Ah, e tem mais: um quarto da população ainda convive com esgoto sanitário a céu aberto. Isso mesmo. Enquanto alguns escolhem entre vinhos importados e lagostas grelhadas, outros lutam contra doenças causadas pela falta de saneamento básico.

Esses números não são exageros. São fatos. Eles vêm da PINAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), da IBGE, e de estudos da própria FGV. São dados frios, mas que mostram um calor sufocante de realidade social.

Uma Exceção Que Vai Além do Real

Agora, segure-se: existe um “bairro” no Brasil onde cada morador ganha, em média, R$ 59.000 líquidos por mês . É a chamada Juizlândia — um nome fictício, claro, mas que representa algo muito real: os 18.200 juízes e desembargadores ativos no país. Sim, você não leu errado. Esse grupo recebe mais do que qualquer cidadão comum jamais imaginaria ganhar em um mês. Se fossem um país, os “habitantes” da Juizlândia estariam atrás apenas de Mônaco no ranking global de riqueza per capita. E isso é assustadoramente verdadeiro.

O Judiciário Brasileiro: Uma Máquina de Gastos

O sistema judiciário brasileiro custou, em 2024, cerca de R$ 133 bilhões aos cofres públicos. Para colocar em perspectiva:

É mais do que o orçamento federal destinado à saúde.
Supera todo o investimento federal em educação.
É maior que o PIB combinado de estados inteiros, como Acre, Amapá, Roraima e Tocantins.

E o pior? Essa máquina cara e pesada é também uma das mais ineficientes do mundo. Segundo dados internacionais, o Brasil gasta quatro vezes mais com justiça do que a média mundial . Mesmo assim, nossos processos demoram de três a dez vezes mais para serem resolvidos do que os da Alemanha ou da Coreia do Sul. A produtividade é baixa, e os salários? Altíssimos.

Salários Que Não Param de Subir

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) recebem o teto constitucional: R$ 46.366,66 por mês. Mas atenção: esse é só o começo. Por meio de auxílios, vantagens eventuais e verbas indenizatórias, muitos magistrados ultrapassam esse valor com folga. Um caso emblemático aconteceu no Tribunal de Justiça de Rondônia. Em fevereiro de 2024, dez juízes e desembargadores receberam mais de R$ 1 milhão líquido cada em apenas um mês. A justificativa? “Vantagens eventuais”, como adicional por tempo de serviço e indenizações acumuladas. Tudo legal, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mas, convenhamos, não soa nem um pouco justo.

Aposentadorias Que Dão Vertigem

Aqui entra um detalhe que faz muita gente torcer o nariz: a aposentadoria compulsória. Quando um juiz comete infrações graves — desde corrupção passiva até assédio sexual —, a punição máxima é simplesmente a aposentadoria compulsória . Nada de prisão, nada de demissão. Só trocar o cargo por um salário vitalício de aproximadamente R$ 35.000 mensais. Só nos últimos 15 anos, 123 juízes foram afastados dessa forma . Alguns casos ficaram famosos, como o de um juiz federal que comprou fazendas no valor de R$ 33 milhões , mas não conseguiu explicar como pagou. Saiu com 58 anos, milionário e sustentado pelo Estado.

Quem Paga a Conta?

Enquanto isso, o restante da população segue lidando com filas intermináveis no SUS, escolas superlotadas e rodovias esburacadas. O custo de oportunidade desse orçamento absurdo é gigantesco. Com metade do que se gasta com o Judiciário por ano, seria possível:

Construir 6.650 escolas de ensino integral , beneficiando mais de 1 milhão de alunos;
Equipar 1.100 hospitais de médio porte;
Asfaltar 40.000 km de estradas.

Mas não é isso que acontece. Em vez de investir na base, privilegia-se uma elite que, ironicamente, deveria representar justiça, equidade e transparência.

A Reação Do Poder Judiciário

Em fevereiro de 2024, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, publicou uma coluna na Folha de S.Paulo dizendo que o Judiciário é “inestimável”. De fato, é. Mas não no sentido positivo. É inestimável o custo para o cidadão comum, que vê seu dinheiro sumir em penduricalhos e regalias que sequer imaginava existirem. E quando o governo tentou mudar isso com a PEC 45, em dezembro de 2024, o que aconteceu? Os próprios juízes ameaçaram se aposentar em massa — jogando ainda mais pressão nos cofres públicos. Resultado? O Congresso recuou e cortou o trecho da proposta que mexia com os privilégios. Mais uma vitória para a casta togada.

É Possível Mudar?

Claro que sim. Basta vontade política. Algumas ideias já estão na mesa:

Limitar ou acabar com os penduricalhos;
Reformar a Lei Orgânica da Magistratura;
Exigir mais transparência nas remunerações;
Vincular salários à produtividade;
Acabar com a aposentadoria compulsória;
Criar um regime previdenciário mais igual ao do resto da população.


Mas, como toda mudança grande, enfrenta resistências. Afinal, quem vai querer abrir mão de tantos privilégios?

Conclusão: Entre o Sonho e a Realidade

No Distrito Federal, o contraste entre o Lago Sul e a Cidade Estrutural é gritante. Mas talvez o maior contraste seja entre a realidade do brasileiro comum e a do Judiciário. Um país onde a maioria vive com salários mínimos, enquanto uma pequena elite vive com supersalários, é um país que precisa urgentemente rever seus valores. A justiça, afinal, não pode ser só para poucos. Tem que ser para todos. Senão, ela perde seu sentido.