CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Tecnologias digitais vs. ocultação da verdade

tec1Por Gary North, 26/09/2012 - A velha tática da rotulação de “teoria da conspiração” ainda é usada. Mas ela dificilmente pega hoje em dia, pois existem tantos documentos online que derrubam as perspectivas dos grupos de poder. Muitos não estão mais acreditando nessas versões. Eu vou contar algumas histórias. Para deixar as coisas mais interessantes, começarei com uma que pode ser o negócio da vida de pelo menos um dos meus leitores. O prazo termina dia 30 de setembro. Aquele que hesitar perderá o negócio. Começo com o óbvio: a queda dos custos em telecomunicações, especialmente os custos de Internet, está revolucionando a disseminação do conhecimento.

Ao disseminar conhecimento, ela passa a minar todo o establishment, pois boa parte do poder de um establishment reside nas versões oficiais do passado.  Assim é visto no livro de George Orwell,1984. No livro, o tirano que impõe o totalitarismo diz: “Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado”.

Os custos para controlar o passado aumentaram desde 1995: o ano em que os navegadores gráficos foram introduzidos. Então veio o Google. Eu sei que Orwell disse isso porque eu acabei de verificar em alguns sites. Isso tomou menos de um minuto. Há alguns debates sobre a pontuação: ponto, dois pontos ou ponto e vírgula. Acho que não me darei ao trabalho de procurar isso na minha biblioteca, que está em uma sala especial a quilômetros daqui. O custo de pesquisa é uma minúscula fração se comparado ao que era em 1995. A web mudou tudo.

Isso leva à minha oferta especial. No final do século XIX, apenas as pessoas que viveram próximas a Boston puderam pesquisar a história do puritanismo americano. Apenas lá era possível encontrar as fontes primárias: a biblioteca da Universidade de Harvard e as coleções da Massachusetts Historical Society. Você precisava ir para Yale após ter terminado em Boston, pois havia outras coleções que estavam espalhadas por toda a região. A principal estava na American Antiquarian Society em Worcester, Massachusetts. De acordo com a AAS,

Clifford K. Shipton, que se tornou bibliotecário em 1940, aperfeiçoou o acesso às fontes primárias por meio de parcerias com companhias tecnológicas. As Primeiras Impressões Americanas [Early American Imprints] em edições de microimpressão proveram aos estudiosos imagens das páginas de livros e panfletos impressos nos EUA antes de 1801.  Pesquisadores ao redor do mundo logo ficaram ávidos para ler conteúdos de impressões armazenadas em bibliotecas a quilômetros de distância do local de leitura. Entenda o que isso significa: tudo que foi impresso na América colonial de 1639 até o início de 1801 seguido de uma coletânea revisória que abrangia de 1801 a 1811. Eu escrevi minha dissertação do PhD em Riverside, Califórnia, sobretudo acerca dessa coleção de micro cartões. Isso foi há 40 anos. Não sei quanto à biblioteca da Universidade da Califórnia pagou por essa coleção. Acredito que tenha sido muito.

Então vieram as microfichas. Era possível fazer fotocópias brutas dessas microfichas – algo que não dava para fazer com os micro cartões. Eu tive de tomar notas escrevendo à mão. Ainda tenho as minhas guardadas em uma caixa. Historiadores nunca jogam fora suas notas. O preço dos microcartões caiu para zero. Um homem que conheci 20 anos atrás descobriu que a firma que os fabricava iria jogar essas coleções no aterro, pois eles não queriam competição com as edições em microficha. Então ele fez um acordo com a empresa: compraria as microfichas com a condição de vendê-las apenas para empresas de pesquisa e escolas privadas de ensino médio que não estivessem dispostas a comprar as coleções de microfichas.  A companhia aceitou.

Meu Instituto de Economia Cristã trouxe a coleção por US$ 10.000. Só de uma coleção completa de jornais que circularam entre 1780 e 1800 foram US$ 8.000. Eu tinha cinco leitores. Em quantias atuais isso daria US$ 30.000, ou seja, gastei muito. Então veio a digitalização e a busca online. As microfichas perderam totalmente o valor. O Instituto de Economia Cristã deu a coleção de micro cartões para uma escola particular cristã. Mas ela ficou sem espaço na biblioteca, então ela precisava se livrar daquilo. Pelo preço de uma viagem para o noroeste do Arkansas e o aluguel de um caminhão médio, qualquer pessoa podia ter a coleção para si. Se ninguém quisesse, tudo aquilo iria para o aterro. Do pó e do plástico vieram, para o pó e para o plástico voltarão.

Com essa coleção, você pode treinar os estudantes para pesquisarem em fontes primárias, ou você mesmo pode fazer a pesquisa. Lá se tem todos os jornais da época da Revolução Americana. É possível verificar as notas de rodapé de qualquer um deles. Você pode adquirir um índice completo. É uma ferramenta ideal para todos os dias em uma escola cujo foco é a história cristã da América. Para uma escola privada de ensino médio que diz ser uma instituição acadêmica para estudantes interessados em entrar para a faculdade, essa coleção na parede da biblioteca diz “esta instituição é séria”. As inscrições vão até 30 de setembro de 2012. Se você estiver interessado, entre em contato com Art Cunningham, Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..


Críticas com dígitos



Está se tornando quase impossível para qualquer grupo de indivíduos com poder e influência em determinada organização ou campo de atividade estabelecer uma versão aceita do passado. Há sites rivais que fornecem links com evidências que minam as versões desses grupos.

Nos bons e velhos dias antes de 1995, uma norma imposta pelo establishment não enfrentava grandes desafios, pois custava muito pesquisar os fatos. Era muito caro passar os escritos para os tipos gráficos que virariam um livro. Além disso, ainda tinham os custos de impressão, armazenamento, publicidade e distribuição. Os poucos que fizeram isso conseguiram um pequeno mercado. E mesmo assim ele poderia ser facilmente descartado sob o rótulo de “teoria da conspiração”. A velha tática da rotulação de “teoria da conspiração” ainda é usada. Mas ela dificilmente pega hoje em dia, pois existem tantos documentos online que derrubam as perspectivas dos grupos de poder. Muitos não estão mais acreditando nessas versões.

O homem comum pode não ter uma opinião sobre o que aconteceu, mas ele tem dúvidas da versão oficial. Dúvidas a respeito de histórias oficiais levam à dúvidas a respeito de todas as histórias oficiais. A dúvida mina a legitimidade. Sem legitimidade, um grupo de poder estabelecido deverá substituir o poder pela autoridade e o governo externo pela autocracia. Os custos para forçar as pessoas a se comportarem são gigantescos para qualquer governo. Sem uma autocracia disseminada para reforçar as demandas, o establishment de uma elite torna-se apenas mais um grupo de interesse competindo.

Esse é o motivo pelo qual a World Wide Web é a maior ameaçada da história para qualquer grupo de interesse especial apoiado por qualquer governo. Todos eles sabem disso. Dificilmente há algo que eles possam fazer a respeito disso. Eles escamoteavam as teorias da conspiração, mas esse mantra não está mais funcionando. Funcionou quando o cidadão médio não tinha acesso aos livros. Ele não tinha acesso às provas com um único clique. Agora ele tem e não há nada que esses vários grupos de poder possam fazer a respeito disso além de invocar o mantra: “Teoria da conspiração”. É um caso de uma panela subsidiada pelo governo que leva a uma panela de pressão financiada pelo setor privado.


O Instituto Mises



O site do Instituto Ludwig von Mises foi o primeiro site de longo alcance a disponibilizar uma alternativa abrangente para o establishment keynesiano e monetarista que impera nas agremiações econômicas. Ele oferece livros, artigos e vídeos produzidos por estudiosos que rejeitam essa perspectiva de causa e efeito do establishment econômico. O departamento intitulado “Literatura” oferece centenas de rejeições clássicas do panorama keynesiano e monetarista: na teoria, na política e na história econômica. Mesmo as maiores bibliotecas de pesquisa não chegam a ter metade desses livros. Esses livros estão no formato PDF e em outros formatos de e-book. Um estudante pode baixar todos eles de graça.

Ele pode também comprar a impressão sob demanda pelo custo de US$ 20,00 cada. Esse modelo tecnológico de impressão quebrou o cartel dos publicadores de livros. Eles nunca tiveram de queimar livros. Bastava apenas retornar os manuscritos aos autores. Isso era muito mais urbano que queimar livros. Queimar livros é uma coisa muito “Nacional-Socialismo de 1936”. Hoje em dia, qualquer autor pode colocar seu livro no formato digital com o software Microsoft Word (por US$ 100,00) ou com o Open Office Write (grátis). Ou, se ele quiser algo maior, ele pode comprar uma cópia do InDesign e escalar a curva de aprendizado. O que se deve entender é que essa barreira é facilmente traspassada por um software e o tempo de aprender a usá-lo. A barreira não é mais monetária.

“A liberdade de imprensa é garantida apenas àqueles que têm uma”. Isso é o que disse nos anos 1950 o ativista radical A. J. Liebling. Agora qualquer um com uma conexão à Internet pode arrendar uma sem custo adicional. Você pode publicar qualquer coisa no Scribd. Ela fica lá publicada sem custo adicional. O Instituto Mises descobriu que dar de graça os PDFs dos livros vende um monte de livros impressos. Os leitores de livros sofrem daquilo que chamo “a síndrome de Picard”. Eles têm de segurar uma cópia impressa do livro para aproveitar o que tem lá dentro. Um PDF ou um Kindle não são bons o bastante. Pior ainda para o establishment keynesiano e monetarista é o poder do YouTube. O Instituto Mises posta lá todas as palestras proferidas em seus encontros. Deste modo, quem cuida dessa parte de vídeo usa a opção de incorporar vídeos do YouTube e coloca-os no site do Instituto. Seja como for, eu nunca vi qualquer propaganda. Os vídeos começam já no início das palestras.

Os vídeos são uma boa maneira das pessoas adquirirem uma rápida perspectiva sobre qualquer assunto. Para quem está estudando fica mais fácil decidir se vale a pena ir atrás daquele assunto. Se for o caso de a pessoa querer, ela pode usar a seção de literatura do site para introduzir-se no assunto. As pessoas gostam de vídeos. Elas os assistem aos montes. Por meio deles, pode-se mais facilmente e mais rapidamente colher novas informações em uma palestra bem proferida do que em um livro. As palestras ficam no site permanentemente. O tráfego no site Mises.org é maior do que o tráfego no site da American Economic Association, a mais importante organização acadêmica do campo econômico. Para se ter ideia, o site do Instituto Mises está na posição 17.000 no ranking da Alexa, enquanto o site da American Economic Association está em 140.000. A estratégia do Instituto Mises é dar tudo. Essa estratégia está funcionando.

Conclusão


A Internet ultrapassou os sistemas de distribuição dos grupos de poder. Sistemas de distribuição de informação agora apresentam numerosas saídas para qualquer pessoa com uma conexão à Internet. Comunicadores habilidosos podem agora superar o que então eram barreiras quase impenetráveis no começo de 1995. A qualidade da larga massa de dígitos é baixa, mas a qualidade no topo é altíssima. Entradas abertas produziram saídas para pessoas com grandes habilidades em pesquisa e expressão. Esse processo acelerará.  Todo establishment pegará fogo intelectualmente e retoricamente. Eles eventualmente sofrerão grandes reveses. Está acontecendo hoje. A capacidade de qualquer establishment em manipular a relevância das opiniões entre os jovens usuários de web está limitada e diminutiva. E enquanto esses usuários ficam mais velhos, eles prestarão menos atenção às opiniões desses grupos de poder.


Do LewRockwell.com

Gary North, economista e historiador, é ex-membro adjunto do Mises Institute. É autor da série An Economic Commentary on the Bible..

Tradução: Leonildo Trombela Júnior