Jul 2008 - Ouvido biônico é solução para surdez congênita ou adquirida 25-Jun-2008 Hospital Professor Edmundo Vasconcelos é pioneiro nessa tecnologia agora acessível nos planos de saúde - O implante coclear, ou ouvido biônico, é uma nova tecnologia que substitui completamente o ouvido ...
de pessoas que nasceram surdas ou que desenvolveram a perda auditiva quando adultos. Sua principal indicação é em crianças e adultos com surdez profunda e que não têm um resultado auditivo satisfatório com o uso dos aparelhos de audição convencionais. “O princípio do dispositivo é substituir o aparelho auditivo e não amplificar um som já existente como os aparelhos atuais”, explica o otorrinolaringologista Iulo Barauna, do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos. O implante coclear é composto de duas partes principais: um componente cirurgicamente implantado, posicionado dentro da cóclea (feixe de eletrodos), e outro componente externo, que tem a função de captar os sons do ambiente e codificá-los em sinais elétricos a serem enviados diretamente ao nervo auditivo. A idéia do implante coclear começou na década de 1930, mas a aplicação em seres humanos iniciou apenas nos anos 1970, nos Estados Unidos. Trinta anos após este modelo experimental, já são 115 mil pacientes implantados no mundo. No Brasil, a tecnologia estava restrita basicamente aos hospitais universitários, sendo poucos os casos realizados em hospitais conveniados e particulares, em razão dos custos que envolvem a cirurgia e o implante.
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“Os planos de saúde adequaram-se às normas da Agência Nacional de Saúde, e têm dado cobertura para este tratamento. Assim, o número de pacientes tende a aumentar”, explica o médico. Além disso, mudanças e aprimoramentos técnicos associados aos bons resultados obtidos nos pacientes já implantados têm incentivado um maior número de médicos a oferecer esse procedimento.
“Já houve um grande avanço na tecnologia. Hoje existem aparelhos com maior captação e novas estratégias de processamento do som. Os novos aparelhos multicanais permitem adequar o som de acordo com a configuração de perda auditiva do paciente”, comenta Iulo Barauna, que atua no Centro de Otorrinolaringologia do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, um dos pioneiros neste tipo de procedimento, antes restrito aos hospitais e centros universitários. “Desde seu desenvolvimento, mais de mil pessoas receberam o implante no País”.
Para ser candidato a um implante coclear, o paciente deve passar pela avaliação de uma equipe multidisciplinar, composta por um médico otorinolaringologista, uma fonoaudióloga especialista em deficientes auditivos, um psicólogo e, em alguns casos, por uma consulta com uma assistente social. Em algumas situações, outros especialistas podem ser envolvidos. “Nossa equipe realiza reuniões mensais para a discussão dos casos e a decisão sobre a indicação ou não da cirurgia”, conta Iulo.
No Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, o primeiro implante foi feito em maio de 2007, em uma criança de 9 anos. Mais dois pacientes devem ser operados ainda no primeiro semestre deste ano. Iulo Barauna alerta que os melhores resultados ocorrem nas cirurgias em crianças com até 3 anos, ainda na fase pré-lingual, ou seja, que nunca falaram, ou em adultos que já falavam e perderam a audição.
Cerca de 75% de todas as perdas auditivas são conseqüências de fatores genéticos, conforme informação disponível no site www.implantecoclear.net. No Brasil, segundo Dr. Iulo, devem ser consideradas as doenças infecto-contagiosas, a exemplo da meningite e da rubéola, como potenciais desencadeadores da perda auditiva.
O retorno dos sons
Implante coclear introduz aparelho eletrônico que substitui funções do ouvido, recuperando o sentido precioso da audição.
A surdez é um problema que pode acometer pessoas de todas as idades. Há crianças que nascem com perdas auditivas que variam de grau e intensidade, e o decréscimo da audição parece ser regra nas pessoas que vivem muito tempo.
O ouvido é uma estrutura complexa, dividida em três partes: externa, média e interna. O som é captado pelo ouvido externo, que é constituído pelo pavilhão auricular, canal auditivo e tímpano. O pavilhão auricular é uma espécie de concha acústica cartilaginosa, com formato especial para captar as ondas sonoras e conduzi-las ao canal auditivo.
O som faz vibrar o tímpano, uma membrana bem fininha que separa o ouvido externo do ouvido médio. Essa vibração movimenta três ossículos – martelo, bigorna e estribo - conectados um ao outro, que funcionam como alavancas que conduzem as ondas sonoras até a cóclea, uma das partes do ouvido interno. Na cóclea, existem células ciliadas capazes de reconhecer se o som é forte ou fraco, agudo ou grave, e de conduzi-lo ao nervo auditivo, de onde é enviado, sob a forma de ondas elétricas, para o cérebro, que codifica o som e o interpreta.
É com o cérebro que ouvimos o canto dos pássaros, a voz da pessoa amada, o riso dos filhos, músicas agradáveis, a sirene de alarme, o grito de socorro, o toque do telefone e da campainha. Essa estrutura preparada para receber as ondas sonoras e transformá-las em impulsos elétricos para serem codificados e decodificados pelo cérebro pode apresentar lesões que interferem no mecanismo da audição.
Surdez
A surdez pode ser congênita ou adquirida, conforme tenha o indivíduo nascido surdo ou tenha adquirido a surdez por causas patológicas ou traumáticas.
A surdez congênita tem sua origem em causas endógenas ou exógenas. Definem-se as causas endógenas pela proveniência de herança genética, no momento da concepção. As causas exógenas não são ocasionadas por fatores hereditários, mas determinadas por condicionadores que provocam a alteração do meio intra-uterino, principalmente nos três primeiros meses da gravidez. Destacam-se como principais: embriopatias viróticas (rubéola por exemplo), embriopatia e fetopatias tóxicas (como quinino, salicilato, álcool, estreptomicina, garamicina, talidomida, anestesias prolongadas), causas endócrinas (como o cretinismo endêmico, bócio, debilidade mental), eristoblastose fetal (destruição das hemácias pelo soro materno pela incompatibilidade sangüínea - fator RH).
Destacam-se como fatores da deficiência adquirida: icterícia, anoxia neonatorum (insuficiência de oxigenação cerebral por problemas de parto), traumatismo obstétrico, processos infecciosos (na infância, principalmente), febres eruptivas, viroses e neuro-viroses, meningo-encefalites, sífilis congênita em suas manifestações precoces, otites, traumatismo craniano, intoxicação medicamentosa.
Os tipos de surdez podem ser classificados em:
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deficiência de condução - resultado de alterações do ouvido médio ou externo que consiste na dificuldade ou impedimento da passagem das vibrações sonoras para o ouvido interno. Casos de surdez ou hipoacusia são, muitas vezes, provocadas por processos de obstrução tubária causadas por fatores mecânicos ou inflamatórios, otites agudas ou recidivantes, bem como malformações do pavilhão da orelha, do meato auditivo ou dos ossículos auriculares da orelha média;
deficiência sensório-neural - origina-se no ouvido interno, no órgão de Corti e nervo auditivo. Também chamada surdez de percepção, nervosa ou de ouvido interno. É causada por doenças ou malformações de origem hereditária. Este tipo de surdez pode ser provocado também por fatores tóxicos, traumas ou exposição do ouvido à poluição sonora;
deficiência mista - apresenta lesões ou alterações do ouvido médio e interno associadas;
deficiência central - causada pela disfunção ou mal desenvolvimento das vias auditivas do sistema nervoso central.
Ouvido Biônico
O implante coclear foi desenvolvido na Universidade de Melbourne, Austrália, na década de 80, e representou uma revolução no tratamento da surdez. O implante coclear, conhecido popularmente como "ouvido biônico", é uma prótese computadorizada inserida cirurgicamente no ouvido interno, que substitui parcialmente as funções da cóclea, transformando energia sonora em sinais elétricos. Estes sinais são codificados e enviados ao córtex cerebral.
A cóclea é um órgão do sistema auditivo, em forma de caracol, que é responsável por transformar o estímulo mecânico do som em um estímulo elétrico que é encaminhado para o cérebro para ser reconhecido. Com o implante, as células ciliadas danificadas são substituídas pelo aparelho.
No Brasil, o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), da Universidade de São Paulo (USP) foi pioneiro na realização do implante coclear, em 1990. Atualmente, existem cinco centros de referência na área no País e mais de 70 mil pacientes usando implantes cocleares em todo o mundo.
O implante
Segundo a equipe de implante do Hospital das Clínicas da UNICAMP, coordenada pelo otorrinolaringologista, Paulo Porto, a vida útil do implante é estimada em 100 anos. “O implante tem dois componentes, um interno, composto por um grupo de eletrodos e um aparelho receptor e um externo composto de um microfone, processador de fala, um codificador e um transmissor. A comunicação entre os componentes externo e interno é realizada através de ondas de rádio FM transmitidos pela pele intacta (pericutâneo). Neste último, existe um imã no componente interno para fixar o componente externo acima dele”.
Segundo a fonoaudióloga responsável pela ativação e acompanhamento dos pacientes implantados no HC - UNICAMP, Silvia Badur Curi, o implante possibilita que o usuário resgate sua audição. “Sendo este paciente criança (que nunca ouviu), ela poderá desenvolver as habilidades auditivas e então desenvolver a linguagem oral. Caso este paciente seja adulto, que perdeu a audição depois de ter a linguagem oral estabelecida, ele volta a ouvir e se relacionar socialmente, de forma mais efetiva, pois terá novamente o feed back auditivo”, explica. “Isto é muito mais abrangente do que o termo ‘recupera a audição’, pois esse sentido é base para aspectos emocionais, psicológicos, e de como a criança e o adulto vão receber as informações, gerar informações e interagir com o mundo. É a possibilidade real do funcionamento de um dos cinco sentidos preciosos do ser humano, que proporcionam experiências únicas, enriquecedoras, formadoras de opinião sobre cada situação vivenciada”, afirma a fonoaudióloga.
Como é feito o implante
O processo cirúrgico é chamado otológica. “A cirurgia para o implante tem duração média de 2 horas, onde o paciente recebe anestesia geral. Faz-se uma pequena incisão de 3cm atrás da orelha, onde é inserido o componente interno do IC (implante coclear). Não há necessidade de raspar o cabelo. Na criança não se utiliza pontos na pele e sim pontos internos (intra-dérmicos). Os riscos são pequenos e semelhantes a uma cirurgia otológica comum”, explica Paulo Porto.
O tempo de internação de 24hs é curto quando comparado a outras cirurgias. Após a operação, deve-se usar antibióticos durante sete dias, associado, se necessário, de analgésicos e anti-eméticos. “Depois do implante, deve-se retirar os pontos em 7 a 10 dias, no caso dos adultos. Já nas crianças, não há necessidade de tirar pontos, pois são pontos internos, mas é importante passar por um otorrinolaringologista para avaliação após o mesmo período de dias”.
Para o otorrinolaringologista, “o implante devolve a confiança ao paciente e a possibilidade de se relacionar novamente com as pessoas. Traz a possibilidade de retornar ao trabalho ou de simplesmente ‘ouvir o barulho do mar’ ou ‘a chuva’, como já foi relatado por um implantado. Na UNICAMP fizemos 122 cirurgias, sendo um pouco mais da metade em crianças. Em meu consultório foram mais 25. O paciente mais novo tinha 1 ano e 6 dias e a mais idosa, 77 anos, que, por sinal, está ótima!”, vibra.
O aparelho
De acordo com Silvia Badur Curi o aparelho do implante coclear precisa de manutenção. “O implante consta de um componente interno e um componente externo. Após um mês da cirurgia para a colocação do componente interno, é realizada a ativação do implante, onde é colocado o componente externo, e ativados os eletrodos para possibilitar a sensação auditiva. Essas programações são realizadas periodicamente, onde é feita a checagem do funcionamento do implante. Também o paciente (adulto) ou os pais (criança) recebem orientações e material para essa checagem em casa, ou junto com a fonoterapeuta”.
Há outros cuidados gerais que devem ser seguidos, como evitar esportes de impacto, não molhar o implante, desumidificar corretamente, para evitar mau funcionamento, usar baterias adequadas, tomar cuidado com quedas, pois podem afetar o componente interno e evitar descargas eletrostáticas, que podem desprogramar o aparelho.
“O componente externo tem que ser removido para dormir, tomar banho, nadar etc. Existe uma restrição em relação as ressonância magnética da cabeça ou pescoço. Detectores de metais (em bancos, shoppings e aeroportos) podem ser ativados pelo implante”, complementa Paulo Porto.
Candidatos ao implante
“Os critérios para a seleção de pacientes adultos são indivíduos com idade acima de 17 anos com perda auditiva neurossensorial severa a profunda bilateral, surdez pós-lingual (linguagem oral adquirida anteriormente à perda auditiva), com benefício limitado das próteses auditivas, psicologicamente aceitáveis e sem contra-indicações médicas”, segundo informações da equipe da UNICAMP. “A seleção de crianças é definida por pacientes maiores de um ano de idade até 4 anos com perda auditiva profunda bilateral, pré e pós linguais, com uma expectativa razoável da família e sem benefício de próteses auditivas. Em nossa equipe, de cada 10 pacientes que chegam, apenas 1 ou 2 são de fato candidatos a realizarem a cirurgia do implante coclear. Os outros pacientes terão melhores resultados com outros métodos de reabilitação”.
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Resultados
Para Silvia Curi, os resultados do implante dependem de cada caso. “A criança que nunca ouviu precisa aprender a ouvir. Para entendermos como isso se processa, basta lembrarmos que uma criança ouvinte leva em torno de dois anos para começar a falar, pois ela necessitou de experiências auditivas, como detectar um som, discriminá-lo, reconhecê-lo, memorizá-lo, para então compreendê-lo e produzir este som com significado. A criança implantada que nunca ouviu, precisa também de um tempo semelhante para desenvolver estas habilidades. No caso dos adultos que perderam a audição, a recuperação depende do tempo que ele ficou com surdez total. Geralmente, aqueles com menos tempo de surdez recuperam mais rapidamente”.
De acordo com Paulo Porto, os resultados nos adultos são mais fáceis de relatar. “Todos melhoraram quando comparado com os exames pré-operatórios sendo que, 80% conseguem reconhecer a fala sem ajuda de leitura labial, sendo que outros 10% ainda tem pouco tempo de ativação do aparelho. E 73,6% conseguem utilizar o telefone”.
Fonte:www.saudelazer.com/
www.hebron.com.br/Revista/n24/capa.htm