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Fumantes de terceira mão

futerce1Você já deve ter se sentido o cheiro da fumaça de cigarro que impregna os cabelos e roupas de fumantes próximos a você, ou talvez tenha entrado em um elevador e se perguntado por que o ambiente estava cheirando a cigarro, se não havia ninguém fumando por perto. Bem-vindo ao mundo do fumo de terceira mão. “Esse efeito residual do cigarro consiste na contaminação provocada pela fumaça de tabaco, que permanece depois de o cigarro ter sido apagado”, explica Jonathan Winickoff, pediatra do Centro de Câncer Dana-Farber/Harvard, em Boston, e autor de uma pesquisa sobre o novo fenômeno, publicada no periódico Pediatrics.

Segundo o estudo, uma grande parcela da população, especialmente os fumantes, ignora que o fumo de terceira mão - a combinação de toxinas que adere por horas ou mesmo dias a carpetes, sofás, tecidos e outros objetos, em ambientes freqüentados por fumantes - é prejudicial à saúde de bebês e crianças. Dos 1.500 fumantes e não-fumantes monitorados por Winickoff, a grande maioria concordou quanto aos perigos do fumo passivo. Mas, ao serem questionados se concordavam com a afirmação: “Respirar hoje, em um local onde alguém fumou ontem, pode ser prejudicial à saúde?”, somente 65% dos não-fumantes e 43% dos fumantes responderam afirmativamente.

O termo cunhado pela equipe de Winickoff - é um conceito relativamente novo, mas a preocupação com esse tipo de efeito é bastante antiga, embora somente há pouco tempo tenham surgido os primeiros estudos. Segundo Stanton Glantz, diretor do Centro de Pesquisa e Educação para o Controle do Tabaco, da University of California, em São Francisco, “o nível de toxicidade na fumaça do cigarro é astronômico, se comparado a outras toxinas ambientais, como as partículas expelidas pelo escapamento de veículos”. Entretanto, Glantz ressalta que desconhece qualquer estudo relacionando o fumo de terceira mão a doenças, como acontece com o fumo passivo. O fumo de terceira mão inclui tudo o que sobra depois da fumaça visível - que leva ao fumo passivo - ter se dissipado no ar. São as toxinas do tabaco que se acumulam nas superfícies com o tempo: um cigarro reveste as paredes de um cômodo qualquer com uma camada dessas toxinas; um segundo cigarro adiciona mais uma camada e assim por diante. Não é possível quantificar esse resíduo, pois depende do tamanho do ambiente. Em lugares pequenos, como um carro, o depósito é muito maior. Na verdade, os próprios fumantes estão contaminados e são fontes de emissão de toxinas.

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O relatório de 2006 do U.S. Surgeon General adverte que não há exposição ao tabaco sem riscos. Na fumaça do cigarro, estão presentes 250 toxinas. O componente mais perigoso da fumaça de cigarro é o cianeto, usado em armas químicas que e interfere na liberação de oxigênio para os tecidos. Outros componentes perigosos são o arsênico, um veneno utilizado para matar ratos, e o chumbo. Em crianças os efeitos são mais graves. O cérebro em desenvolvimento é particularmente sensível aos níveis de toxinas. Bebês e crianças estão mais próximos do chão e de outras superfícies onde as toxinas se depositam, por isso estão mais expostos à contaminação.

As crianças ingerem duas vezes mais poeira que os adultos por causa da respiração mais rápida e do constante contato com superfícies empoeiradas. Considerando que um adulto pesa 70 kg, por exemplo, e um bebê, 7 kg, crianças e bebês estão sujeitos a uma exposição 20 vezes maior que um adulto. Estudos em camundongos sugerem que a exposição à toxina do tabaco é a principal causa da síndrome de morte súbita infantil, provavelmente provocada por insuficiência respiratória. Este estudo sugere que para proteger a saúde de seus próprios filhos, os fumantes precisam abandonar o vício, e os não-fumantes precisam a ajudá-los nessa tarefa.

 

Fumo de terceira mão também é fator de risco para desenvolvimento de câncer

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31/05/2017 - Toxinas que se fixam em roupas e no ambiente após o indivíduo terminar o cigarro também fazem mal à saúde. Após a consolidação de evidências sobre os males para quem fuma e para os fumantes passivos, cientistas chamam a atenção da sociedade para os perigos do 'fumo de terceira mão'. O conceito compreende quando uma pessoa entra em contato com as partículas e substâncias tóxicas do cigarro que se depositam em roupas e objetos e que permanecem ali mesmo depois que o cigarro é apagado.

Os riscos associados ao tabaco já são amplamente conhecidos. Mais recentemente, porém, a ciência mostrou que o chamado thirdhand smoke (fumo de terceira mão) também é fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças, dentre elas o câncer.

"Esses compostos permanecem no ambiente mesmo após a dissipação da fumaça, impregnadas em roupas, tapetes, carpetes e outros objetos", alerta o cirurgião oncologista e diretor do Departamento de Pulmão e Tórax do A.C.Camargo, Jefferson Luiz Gross.

Um estudo publicado na revista científica Pediatrics por pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute entrevistou 2 mil pessoas sobre fumo, fumo passivo e fumo de terceira mão. A pesquisa evidenciou justamente que a combinação de toxinas que se fixam por horas ou mesmo dias aos carpetes, sofás, tecidos e outros objetos, em ambientes frequentados por fumantes, é prejudicial à saúde. Os danos são maiores, inclusive, para bebês e crianças.

Segundo os autores, em crianças os efeitos são mais graves porque o cérebro em desenvolvimento é mais sensível aos níveis de toxina. Além disso, os pequenos estão mais próximos do chão e de outras superfícies onde as toxinas se depositam. Além disso, o trabalho mostrou que uma grande parcela da população (principalmente os fumantes) ignora que o fumo de terceira mão seja prejudicial para não fumantes, apesar de reconhecer os males do fumo passivo.

Dia Mundial sem Tabaco. Em meio a esse cenário e em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco, acontece nesta quarta, 31, o movimento global 'O tabaco ameaça todos nós', liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A campanha explora a ideia de que o tabaco ameaça o desenvolvimento sustentável de todos os países, da produção ao consumo. De acordo com a entidade, o tabagismo causa mais de 7 milhões de mortes por ano no mundo. Caso não sejam intensificadas as ações antifumo com engajamento de todos os setores da sociedade, o número saltará para uma média anual de 8 milhões de mortes até 2030.

Jefferson Luiz Gross, do A.C.Camargo, adverte que não existe consumo seguro de tabaco, seja ele por meio de qualquer forma ou quantidade de cigarro, cachimbo, charuto, narguilé - incluindo o contato passivo ou de terceira mão. "No âmbito geral, o tabagismo é causa de um entre três casos de câncer. Se vivêssemos em um mundo sem tabaco, muitas mortes seriam evitadas. Todos nós somos responsáveis por combater o fumo e precisamos nos engajar nesse movimento", alerta. Tabaco e câncer. O tabagismo é responsável direto por cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão e está relacionado a mais de uma dezena de tipos de câncer, dentre eles esôfago, estômago, pâncreas, rim, bexiga, boca, laringe, faringe, garganta e mama.

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Há relação comprovada também com o desenvolvimento de outras doenças, como enfisema, bronquite, enfarte e derrame cerebral. As chances de sucesso no tratamento dos pacientes com câncer de pulmão estão correlacionadas à fase em que o ocorre o diagnóstico. No Brasil, a doença é, na maioria dos casos, diagnosticada em fase mais avançada.

Crianças Podem Estar Sob Maior Risco

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Infelizmente, as crianças podem sofrer os maiores riscos de riscos à saúde causados pelo fumo de terceira mão e outras toxinas ambientais. A infância é uma época de crescimento rápido, acompanhada por mudanças nas capacidades metabólicas e no funcionamento do sistema de órgãos. Estes podem modificar drasticamente os efeitos da exposição a toxinas ambientais. Seu risco aumentado é o resultado de sua maior exposição e vulnerabilidade relacionadas às suas necessidades fisiológicas.

A exposição das crianças a toxinas ambientais é insidiosa, pois elas secretamente entram no corpo da criança através da ingestão de poeira doméstica e de áreas do ambiente, como brinquedos e móveis, onde toxinas podem ter sido depositadas. As crianças também consomem mais comida e água por unidade de peso corporal e respiram mais ar. Órgãos imaturos são sensíveis a estímulos externos e seu rápido crescimento aumenta o acúmulo de produtos químicos em longo prazo.

Tornando-se Aéreo Novamente

Pesquisadores da Drexel começaram a esmiuçar o mecanismo que permitia que o fumo passasse para dentro de casa e voltasse a ser transportado pelo ar. Pesquisas anteriores demonstraram que conforme os produtos químicos transmitam sua forma gasosa, eles estabeleciam-se em qualquer superfície. No entanto, eles podem concentrar-se em partículas quando os produtos químicos estão na forma de gás e expostos a um aerossol líquido e ácido. Isso significa que eles podem ser transportados para ambientes sem fumaça enquanto aguardam as condições certas para a transição para o gás.

Os pesquisadores descobriram que uma combinação de condições necessárias para as partículas tornarem-se aerossolizadas é, na verdade, bastante comum em ambientes fechados. Eles sugeriram que os produtos químicos poderiam retornar a uma fase gasosa quando expostos a substâncias químicas específicas, comumente encontradas em edifícios, como a amônia. Na verdade, os sistemas AVAC fornecem os fatores necessários para espalhar produtos químicos tóxicos e os fatores necessários para tornarem-se aéreos novamente. Os pesquisadores escreveram:

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“O sistema AVAC não serve apenas para condicionar os aerossóis a estados úmidos ou secos, mas também para mover o ar através da zona de um edifício. Os sistemas AVAC recirculam e dispersam o ar nas várias salas da zona servida pelo sistema. Por esta razão, uma sala localizada perto de uma área para fumantes com penetração de fumaça ou uma sala ocupada por um fumante pode efetivamente expor os outros ocupantes servidos pelo mesmo sistema AVAC ao fumo de terceira mão, mesmo que não compartilhem o espaço diretamente.”

A pesquisa da Drexel apenas avaliou os espaços ventilados, como edifícios de escritórios e salas de aula. Waring explicou que as concentrações são provavelmente maiores em residências, quartos de hotel e carros de aluguel onde as pessoas fumaram e onde há menos ventilação. Os pesquisadores sugerem que a gravidade da situação indicada pelos dados levanta questões importantes para futuras pesquisas sobre como você pode limitar a exposição. Pode ser fácil reconhecer a presença de poluentes se você puder vê-los ou cheirá-los, mas esses dados são um lembrete de quantos produtos químicos inodoros estão no ambiente.

Limpar Resíduos é Difícil

Conforme os produtos químicos e as toxinas do fumo de terceira mão acumulam-se ao longo do tempo, ele pode permanecer por semanas, meses ou mesmo anos. Esse acúmulo é resistente aos métodos normais de limpeza. Além disso, as toxinas não podem sair de uma sala ou carro com ventiladores ou ser limpas com aspiradores. Infelizmente, a única solução é substituir o carpete e limpar as paredes antes de repintá-las. Os sistemas de ventilação geralmente precisam ser limpos e os móveis substituídos.

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É caro eliminar totalmente o fumo de terceira mão de uma sala e eliminar a exposição a futuros residentes. A melhor maneira de administrar o perigo é parar de fumar. Sua casa representa uma grande parte de sua exposição ao risco relacionada à quantidade de tempo que você passa em casa. Se você é capaz de melhorar a qualidade do ar em sua própria casa, isso irá ajudar muito a reduzir seu risco potencial ao longo do tempo.Considere métodos para melhorar a qualidade do ar em casa usando algumas das estratégias descritas no meu artigo anterior, “O Ar que Você Respira é Mais Poluído do que você Imagina”. Pesquisadores que estudaram os efeitos na poluição da proibição de fumar em um cassino ao longo do tempo dizem que você pode acelerar os efeitos positivos para a saúde remediando reservatórios de fumo de terceira mão, o que inclui fazer uma limpeza intensiva e a substituição do carpete, móveis e outros materiais.

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Fonte: http://www2.uol.com.br/
           https://emais.estadao.com.br/
           https://portuguese.mercola.com