PESSOAS ESPECIAIS

Lampião, o Fora da Lei

lamp topo1Afinal quem foi Lampião, o maior ícone do movimento do cangaço, adorado e odiado, herói e vilão, pra uns um o Robin Hood do sertão, pra outros um bandido assassino, cruel e sanguinolento. Virgulino Ferreira da Silva, nasceu em Serra Talhada, 4 de Junho de 1898. Há grande controvérsia sobre a data de nascimento de Lampião. As mais citadas são: 7 de julho de 1897: data do Registro Civil; 4 de junho de 1898: É a data citada em sua Certidão de Batismo3 , uma das mais citadas na literatura de cordel. Este dia é geralmente aceito por muitos. devido ao costume das regiões do semiárido de primeiro batizar as crianças e registrá-las tempos depois, devido a um misto de religiosidade e desconfiança em relação ao poder civil constituído e a um "enquadramento administrativo" por parte deste.

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12 de fevereiro de 1900: data dada segundo Antônio Américo de Medeiros pelo próprio Lampião em entrevista ao escritor cearense Leonardo Mota, em 1926, em Juazeiro do Norte. A questão de sua data de nascimento torna-se ainda mais relevante no contexto em que se instituem datas comemorativas em seu nome, como o "Dia do Xaxado, projeto da Câmara Municipal de Serra Talhada que escolheu a data de 7 de julho, que corresponde a seu registro civil.

Contexto Histórico

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Sertão nordestino, seca, fome, desigualdades, transição do Séc. XIX para o XX, primeiras décadas da República, nesse cenário surge o Cangaço, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Cangaceiros não tinham moradia fixa, eram muitas vezes contratados como mercenários, fazendo os serviços sujos para os coronéis. Perambulavam pelo sertão, praticando crimes, fugindo e se escondendo.

O Cangaço é a denominação dada ao tipo de luta armada ocorrida principalmente no Sertão nordestino, do fim do século XVIII à primeira metade do século XX. As violentas disputas entre famílias poderosas e a falta de perspectivas de ascensão social numa região de grande miséria levaram ao surgimento de bandos armados, gerando esse fenômeno. Cangaceiro era o homem que se dedicava a essa atividade, trazendo sempre atravessada nos ombros uma espingarda, como um boi debaixo da canga. Já no começo do século XIX, o cangaceiro trazia a tiracolo ou dependurada no cinturão toda sorte de armas suplementares, como longos punhais que batiam na coxa e cartucheiras de pele ou de couro, praticamente a mesma indumentária de Lampião, cem anos mais tarde.

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A palavra deriva de canga, peça de madeira simples ou dupla que se coloca na parte posterior do pescoço de bois nos carros de boi. Devido aos utensílios que os homens carregavam no corpo, o nome foi incorporado.Como conheciam muito bem a mata, rotas de fuga, ervas medicinais, e tinham ajuda de coiteiros (pessoas que auxiliavam na fuga, ou davam abrigo, simpatizantes), não era uma missão fácil para o Estado captura-los.

O Estado, se atualmente é omisso, quanto a questão da pobreza no nordeste, no início do Séc. XX, o povo estava abandonado a própria sorte, a seca e a miséria predominavam, onde os coronéis(fazendeiros) eram a lei. Voltemos a Lampião, em 1915, ele acusa um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua propriedade. Começa, então, uma rivalidade entre as duas famílias. Quatro anos depois, Virgulino e dois irmãos se tornaram bandidos.

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Matavam o gado do vizinho e assaltavam. Os irmãos Ferreira passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram da fazenda. A mãe de Virgulino morreu durante a fuga e, em seguida, num tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Virgulino jurou vingança. Lampião formou o seu bando a princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalos.

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Foram criadas volantes, policiais mais soldados temporários, milícias armadas para tentar combater e capturar os cangaceiros, que por foram apelidados de “macacos” pelo jeito que batiam em retirada, pulando. Lampião ficou famoso pela sua disciplina, vestes impecáveis, cheias de adornamentos, cousa que todo o bando copiava, a vaidade dos cangaceiros era uma de suas marcas registradas.

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Lampião roubava comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de "Rei do Cangaço".Quando bem recebidos, promoviam bailes, festas, entretanto com os que o enfrentava ou lhe afrontava, mostrava todo seu lado maligno e sanguinolento.

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Seu bando sequestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal. Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade.

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Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço (sangrar o cabra). Em 1926, a fim de combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados, liderados por Luiz Carlos Prestes, o governo se aliou ao cangaceiro, fornecendo fardas e fuzis automáticos. Por indicação do Padre Cícero, o qual disse que somente Lampião poderia conter a Coluna Prestes, foi formalizado um pacto, no qual resultou o encontro do padre com Lampião (Virgulino era devoto do Padre Cícero), isso em Juazeiro.

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Virgulino aceita a empreitada, em troca de anistia de seus crimes, recebe um documento de livre acesso entre os Estados, e é nomeado a patente de Capitão, claro que a anistia nunca veio. Existem duas versões para o seu apelido. Dizem que, ao matar uma pessoa, o cano de seu rifle, em brasa, lembrava a luz de um lampião. Outros garantem que ele iluminou um ambiente com tiros para que um companheiro achasse um cigarro perdido no escuro.

 

"Olé, Mulher Rendeira,
Olé mulhé rendá
Tu me ensina a fazer renda,
eu te ensino a namorá."


Música composta por Lampião, que poucos sabem.

Maria Bonita

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Em 1929, conheceu Maria Déia, a Maria Bonita, a qual não era tão bonita assim. Também há algumas controvérsias de como se conheceram, o fato é que a partir daí começam a entrar mulheres no cangaço. Maria Gomes de Oliveira, vulgo Maria Bonita (Paulo Afonso,4 8 de março de 19111 — 28 de julho de 1938) companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião e a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros.

Maria Bonita nasceu e cresceu no povoado Malhada da Caiçara, que se localiza no município Paulo Afonso5 , na época município Gloria, na Bahia. Depois de um casamento fracassado, no qual não gerou filhos, em 1929 tornou-se a namorada de Virgulino Ferreira da Silva, conhecido também como o "Rei do Cangaço". Morando na chácara dos pais, um ano depois do namoro foi chamada por Lampião para fazer efetivamente parte do bando de cangaceiros,[carece de fontes] assim se tornando a mulher dele, com quem viveria por oito anos.

Supõem-se que Maria Bonita engravidou quatro vezes e que em duas gravidezes perdeu os filhos, sendo eles natimortos.[carece de fontes] Comprovadamente ela teve uma filha com Lampião de nome Expedita Ferreira Nunes4 , a única reconhecida legalmente,3 que foi criada por um casal de amigos vaqueiros. Existem porém dúvidas sobre o parentesco dos supostos gêmeos Arlindo e Ananias Gomes de Oliveira. Ambos até então considerados filhos de Maria Bonita e Lampião.

Maria Bonita morreu em 28 de julho de 1938, quando o bando acampado na Grota de Angicos, em Poço Redondo (Sergipe),4 foi atacado de surpresa pela polícia armada oficial (conhecida como "volante"). Foi degolada ainda viva, assim como Lampião, porém este já morto, e outros nove cangaceiros. Em 2006 a Prefeitura de Paulo Afonso restaurou a casa de infância de Maria Bonita, instalando o Museu Casa de Maria Bonita no local.

A morte de Lampião e seu bando

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No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o ofício e se preparavam para tomar café; quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.

Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.

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O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro e as joias.

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A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepou a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois também tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luís Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a; este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro. "Feito isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal."10 Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus.

Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocada creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor. Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumadas cuidadosamente na escadaria da Prefeitura, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas. Depois, foram levadas a Maceió e ao sudeste do Brasil.

No IML de Aracaju, as cabeças foram observadas pelo médico Dr. Carlos Menezes. Depois de medidas, pesadas e examinadas, os criminalistas mudaram a teoria de que um homem bom não viraria um cangaceiro, e que este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais. Do sudeste do País, apesar do péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Antropológico Estácio de Lima localizado no prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.

Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno a seus parentes. O economista Sílvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, em especial, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, a macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro de seu pai, a sepultura foi violada, o corpo foi exumado, e sua cabeça e braço esquerdo foram cortados e colocados em exposição no Museu Nina Rodrigues.

O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do Projeto de Lei nº 2.867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do Clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois.

O Fim do Cangaço

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O cangaço terminou em 1940, com a morte de Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do grupo comandando por Lampião. Devido a literatura de cordel, e sua fama de invencível, que perdurou por 20 anos, sua figura foi elevada de simples bandido a um herói, onde a seca, miséria, fome, injustiças e muitos outros fatores faziam parte do cotidiano do sertanejo, as pessoas viam em Lampião, alguém que enfrentava, a sua maneira, o governo e os coronéis, uma resistência às mazelas.Surge assim o mito de Lampião, que foi imortalizado no imaginário dos fortes sertanejos, sobressaindo seus atos bons aos ruins.

 

Lampião morreu envenenado?

 

Por José Bezerra Lima Irmão (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.) - Existem três versões sobre o que aconteceu em Angico na madrugada de 28 de julho de 1938. A primeira, e também a mais divulgada, é a versão da polícia, e portanto a versão “oficial”, dando conta de que Lampião teria sido “surpreendido” enquanto dormia na Grota do Angico. A segunda versão é de que Lampião morreu envenenado. A terceira é de que Lampião fugiu vivinho da silva, pois tudo o que houve em Angico foi uma farsa, e Virgulino escapou, indo morar em Goiás e depois em Minas Gerais.

Tudo isso é analisado nos mínimos detalhes no livro Lampião – a Raposa das Caatingas, das páginas 561 a 644. Portanto, mais de 80 páginas abordam esse tema. Num capítulo intitulado “O Armagedon na caatinga”, o leit or conhecerá o ambiente no coito nos dias que precederam o ataque da volante, em especial os fatos do dia anterior; o movimento dos coiteiros; os procedimentos da polícia, desde os preparativos da véspera até o cerco e o tiroteio. Outro capítulo descreve o que aconteceu com as cabeças dos cangaceiros mortos. Outro dá conta do inventário dos objetos encontrados com os corpos.

Um extenso capítulo analisa a versão do envenenamento, envolvendo o relato acerca dos urubus mortos por terem comido as vísceras dos cadáveres; a denúncia da imprensa da época; os depoimentos de cangaceiros sobreviventes; as revelações dos soldados integrantes da volante; a eliminação de testemunhas (“queima de arquivos”); a opinião dos pesquisadores. O livro analisa em detalhes a versão do tenente João Bezerra.

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Por fim, há um extenso capítulo em que é abordada a tese da fuga de Lampião para Goiás e depois para Minas Ger ais, onde morreu de velho. Se essas coisas não têm importância para você, então tome uma cerveja, deite numa rede e tire uma soneca. Mas se você se interessa pelas coisas do cangaço, vale a pena esmiuçar os mistérios acerca do que de fato aconteceu na Grota do Angico. Dediquei 11 anos de pesquisa para escrever esse livro. Ele contêm mapas dos locais dos fatos e fotos de muitos dos personagens citados. Sua leitura leva o leitor a conhecer as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste.

O livro destaca os principais precursores de Lampião: Cabeleira, Lucas da Feira, Sereno, Cirino Guabiraba, Quirino, Inocêncio Vermelho, João Calangro, Viriato, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Zezinho dos Laços, Manezinho da Barra das Almas e Manoel Monte. Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês. Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço. Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/
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