HISTÓRIA E CULTURA

O silêncio da Kika

JUS46Por Luiz Carlos Félix de Oliveira (Série Mala de Garupa) - Na localidade de Sanga Funda todos conheciam o seu Flor, muito admirado pelas suas proezas, mentiras e cortejado, por sua fama de conquistador. Gostava de dançar e desfilar no carro do ano, sempre bem acompanhado. Na mesa oitavada do carteado, forrada de baeta verde, contava suas aventuras, engrossava o verbo e largava - sou um Porfirio Rubirosa pelos dotes e desempenho. Todos riam, mas nada o atingia,pois semprelevava vantagem.  No final da noite, contava as fichas e dizia –riam...o trouxa já vai, boa noite.
 
 
Verdade ou não seu Flor continuava prestigiado e assediado, para despeito dos que debochavam de suas aventuras. As namoradas eram cobertas de presentes e gentilezas. Para elas confidenciava segredos de sua vida, que reunidos, dariam belos causos. 
 
Andava de namoro firme com Kika, uma linda morena, elegante e charmosa bem mais moça e mais alta que ele. Viajaram à Capital para passar uma semana, mas retomaram logo.  Quando chegaram à Sanga Funda, pediu que não contasse nada do que acontecera entre eles.
 
“Tudo é bom enquanto dura...” logo seu Flor partiu,deixando um rito a ser seguido:
 
- Estar rodeado de beldades.
- Sem choro de carpideiras, nem terços de rezadeiras.
- Lágrimas, só das mulheres amadas.
 
Tetê, Lola, Carmencita e Dorzinha foram as primeiras a chegar ao velório.  Comentavam passagens de sua vida com ele. Miloca chegoumuito triste com véu preto na cabeça e uma rosa vermelha que colocou sobre o corpo. Levantou o lenço de linho branco, que cobria o rosto, e exclamou: - Olhem, ele está sorrindo, como foi feliz conosco!Todas se aproximaram e disseram algumas palavras, mas Kika, que estava afastada do grupo permaneceu em silêncio.