VERDADES INCONVENIENTES

A Doutrina do Choque-Parte1

chockd1 - topo 1Loyola University, Chicago, 2009 Naomi Klein (NK) : "O Estado de Choque não é apenas o que ocorre conosco quando algo ruim acontece. é o que ocorre quando perdemos nossa narrativa, quando perdemos nossa história, quando ficamos desorientados. O que nos mantém orientados, alertas e fora de choque é a nossa história. Um período de crise, como o que estamos vivendo, é um bom momento para pensar na história, para pensar em continuidades e em origens. É um bom momento para nos posicionarmos na longa história de luta da humanidade." A história começa em 01/06/1951, quando membros das agências ocidentais de inteligência reuniram-se secretamente com acadêmicos no hotel Ritz Carlton em Montreal.

Esta reunião contribuiu para a pesquisa financiada por militares sobre os efeitos da privação sensorial na Universidade McGil.

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Dr Donald Hebb: "A privação sensorial é uma forma de produzir monotonia extrema. Causa a perda da capacidade crítica, o pensamento fica menos claro, os pacientes se queixam de que não conseguem sonhar. Quando nem universitários podem sonhar, as coisas ficam difíceis. Durante nossas experiências comecei a pensar que é possivel que o desconforto físico ou mesmo a dor sejam mais toleráveis do que as condições de privação que estudamos.Eu nao fazia idéia quando propus de que isso poderia ser uma arma potencialmente perigosa. O Dr Cameron fez bem mais do que nos fizemos. Fizemos nosso trabalho sabendo que os pacientes podiam sair quando quisessem, e alguns sairam."

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Hebb decidiu para de trabalhar na pesquisa. Mas as experiências na MacGill continuaram sob o comando do amboicioso chefe de psiquiatria, Dr Ewen Cameron. O instituto Allan Memorial, onde ele trabalhou, começou a parecer uma prisão macabra, onde Cameron realizava experiências bizarras. com seus pacientes da psiquiatria. Cameron queria apagar a mente dos seus pacientes para que pudesse recontuí-la a partir do zero.

Janine Huard, era uma jovem mãe de 4 filhos, que sofria de depressão pós parto.


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"Estremecia quando me diziam que eu iria sofrer terapia de choque. Estremicia. Eu tinha muito medo. Acordava em outro quarto, confusa, triste. Eu ficava muito triste depois. Érams zumbis perambulando."

Cameron combinava a terapia de choque com terapia do sono repetindo mensagens gravadas.

"Dizia: "Janene, Janine, você esta fugindo de sua responsabilidade. Você não quer cuidar do seu marido e filhos." Todo o tempo. Parecia que eu estava sendo interrogada, mas com qual propósito?"

Não demorou para a CIA por em prática a pesquisa de Cameron. Muitas de suas técnicas apareceram no manual Kubark de interrogatório de contrainteligência da CIA.

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Estes são trechos do manual:

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É uma hipótese fundamental desse manual que estas técnicas são métodos de indução de regressão de personalidade. Há um intervalo, que pode ser muito curto, de animação suspensa, uma espécie de choque psicológico ou paralisia. Interrogadores experientes reconhecem quando surgem esses sintomas. Sabem que nesse instante, a "fonte" é mais suscetível a sugestionamento, mais propensa a cooperar do que anes de receber o choque.


O OUTRO DOUTOR CHOQUE

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Na mesma época que Ewen Cameron fazia suas experiências em Montreal, um expoente de outro tipo de choque trabalhava não muito distante. Milton Friedman lecionava eoconmia na Univ. de Chicago. Ele acreditava que a terapia de choque econômico poderia estimular sociedades a aceitar uma forma mais pura de capitalismo desregulado. Em outubro de 2008, em meio a maior crise financeira desde 1929, Naomi Klein (NK) foi a Universidade de Chicago, para falar sobre Milton Friedman.

NK - "Quando Milton Friedman completou 90 anos, o governo Bush organizou uma festa de aniversário para ele. Todos fizeram discursos, incluindo George Bush. Mas o melhor discurso foi de Donald Rumsfeld. Minha frase favorita do discurso de Rumsfeld é a seguinte: "Milton é a personificação da verdade de que as idéias tem consequências."O que quero sustentar aqui, é que o caos econômico que vemos em Wall Street, nas ruas e em Washington deve-se a muitos fatores, claro, mas dentre eles, estão as idéias de Milton Friedman."

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A quebra de Wall Street de 1929 levou a Grande Depressao dos anos 1930. No cerne da tese de Freidman estava sua oposição ao New Deal, anunciado pelo presidente Roosevelt em seu discurso de posse:

"Nossa principal atribuição é por o povo para trabalhar. Não é um problema insolúvel, se o enfrentarmos com sabedoria e coragem. Gostaria de salientar que a única coisa que temos a temer é o próprio medo."

Influenciado pelo economista John Maynard Keynes, Rossevelt iniciou um programa de emprego público para que as pessoas voltassem a trabalhar.

Presidente Rossevelt:

"Hoje, a recessão é uma lembrança distante. Milhões de homens e mulheres encontram emprego e com ele a confiança e a esperança."

Mas não foi tão simples assim. A recessão durou até a Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, o plano Marshall disseminou na Europa o modeo keynesiano de regulamentação pública e intervencionismo. Seus princípios eram amplamente aceitos. Mas não no Departamento de Economia da Universidade de Chicago.

NK: "Milton Friedman, a partir desta Universidade, declarou guerra ao New Deal."

Friedman era membro de um grupo, a Sociedade Monte Pélerin, liderada pelo economista austríaco Friedrich Von Hayek. Eles acreditavam que se o governo parasse de prover e de regular os mercados, a economia se corrigiria sozinha. Nos anos 1950, eles foram considerados loucos. Mas nos últimos 30 anos, suas idéias se tornaram a doutrina econômica dominante.

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NK: "A tese da Doutrina de Choque é que nos venderam um conto de fadas sobre como esss políticas radicais dominaram o mundo. Elas não dominaram o mundo na esteira da liberdade e democracia, mas precisaram de choques, precisaram de crises e estados de emrgÊncia. Milton Friedman compreendia a utilidade da crise. Do seu livro: "Só uma crise, real ou pressentida, produz mudança verdadeira. Quando a crise acontece, as ações que são tomadas dependem das idéias a dispçosição."


O PRIMEIRO TESTE: CHILE


Foi no Chile que os discípulos de Friedman aprenderam a explorar um choque ou crise em larga escala.

NK: "Geralmente as versões oficiais do neoliberalismo, os divulgadores oficiais, sequer mencionam o Chile. Começaram a história com Thatcher e Reagan porque assim é mais lisonjeiro."

Nos anos 1950 e 60, a política desenvolivmentista progressista do Chile era um exemplo para a região. O governo investia em saúde, educação e indústria. As empresas americanas estavam preocupadas que seus investimentos fossem afetados. Em resposta o Departamento de Estado dos EUA começou a oferecer bolsas aos estudantes do Chile e de outros paises da América do Sul para estudar economia livre de mercado com Miltn Friedman.

Milton Friedman: "A Universidade de Chicago tinha um programa de intercâmbio com a Universidade Católica do Chile, por meio do qual muitos alunos chilenos vieram a Chicago onde foram educados por nós e receberam doutorado."

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Esses alunos voltaram e lecionaram no Chile. O departamento de economia da Universidade Católica de Santiago virou uma pequena "Escola de Chicago". Arnold Harberger, o economista responsável pelo programa, descrevia a si mesmo com um dedicado missionário.

PARTE 2